quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Ecos Culturais | Sebastião Salgado

Não resisti e tirei uma foto da linda foto de Salgado...

Fotografia é um item da cultura, certo? E quando, mais do que beleza, a fotografia é também documento, denúncia ou conscientização? Também é cultura? De qualquer forma o termo guarda-chuva, com certeza, cobre a obra monumental de Sebastião Salgado (Aimorés-MG, 1944), um dos fotógrafos mais respeitados e premiados do mundo. 

Brilhante na sua profissão, Salgado é, sobretudo, consciente e humano e, para mim, esta última qualificação o coloca entre os melhores. Salgado cursou Economia na Universidade de São Paulo e conheceu Lélia Wanick. Casaram-se e, no final dos anos 1960, mudaram-se para Paris, fugindo da ditadura militar aqui instalada. Lá, Lélia começou a estudar Arquitetura, comprou uma máquina fotográfica e, por curiosidade, o marido, ao ver o mundo pelo visor da câmera, apaixonou-se pelo tema. 

Como hobby, Salgado começou a fotografar em 1973, aos 29 anos, mas logo, se projetou internacionalmente. Trabalhou nas principais agências de fotografia do mundo e nunca mais parou. Em 1994, com a esposa, fundou a própria agência, a Amazonas Imagens. Seu trabalho permitiu que viajasse a dezenas de países e conhecesse crises humanitárias, guerras, fluxos migratórios, exploração do homem pelo homem etc., mas também locais onde a natureza explode em vida e energia. Em 1998, o casal criou o Instituto Terra, em Minas, uma ONG que atua como centro de recuperação ambiental e pelo reflorestamento da Amazônia brasileira e do planeta.  

Ao completar 80 anos, em fevereiro deste ano, Sebastião Salgado anunciou, ao Jornal The Guardian, que iria se aposentar do trabalho de campo, mas continuaria a fotografar, agora em projetos menos desafiadores, além de cuidar de seu imenso acervo de mais de 500 mil fotos. Os anos de profissão deixaram marcas no corpo e na alma: na alma, um fio integrando todos os projetos e no corpo, as sequelas de ferimentos de várias guerras que presenciou, além da malária, adquirida na Nova Guiné e que afetou seu sistema imunológico. Mesmo assim, comemorou com alegria seus 80 anos, por ter sobrevivido. Garantiu que, às vezes, ficava apreensivo com as longas viagens em territórios inóspitos, mas nada o impedia de ver e fotografar os dramas e as belezas do mundo. 

O projeto Trabalhadores, do início da década de 1990, foi o que fez seu nome conhecido no mundo todo. Depois, viriam outros trabalhos, tão incríveis quanto. Atrás de cada foto, o olhar humano, consciente e de denúncia do fotógrafo, que lhe rendeu belas exposições, prêmios, homenagens e entrevistas. Tive o prazer de ver algumas exposições suas em São Paulo: Trabalhadores (1994), no MASP; Gênesis, no SESC Belenzinho (2013); Gold - Serra Pelada, no SESC Paulista (2019); Êxodos (2000), junto com meu pai, ainda vivo e que se revelou grande admirador do fotógrafo, e Amazônia (2022), as duas últimas no SESC Pompeia, em São Paulo. São fotos que alargam nosso horizonte e tocam o coração.

Lélia Wanick Salgado, sua esposa, mãe de seus dois filhos e parceira desde 1964, arquiteta, designer, cenógrafa e ambientalista capixaba é responsável pelo projeto gráfico dos belos livros e pela curadoria das mostras. É uma verdadeira equipe, um dignifica o outro. Durante a entrevista à revista Piauí, ele disse: — Não sei dizer onde termino e onde começa Lélia.

Suas fotos em branco e preto continuam a encantar os olhares, como a exposição da Sony World Photography Awards 2024, ocorrida em abril, em Londres, para celebrar o prêmio que Salgado recebeu como  “Contribuição Notável para a Fotografia”. Um dos próximos projetos é uma mostra especial durante a COP30 em Belém, em 2025, com 255 fotos gigantes de seu projeto Amazônia. Aguardemos!

Referências

https://www.theguardian.com/global-development/2024/feb/08/photographer-sebastiao-salgado-at-80-they-say-i-was-an-aesthete-of-misery!

https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2024/02/6804005-fotografo-sebastiao-salgado-anuncia-aposentadoria-do-trabalho-de-campo.html

https://piaui.folha.uol.com.br/sebastiao-salgado-80-anos-exposicao-fotos

https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2024/04/20/a-fotografia-e-o-espelho-da-sociedade-afirma-sebastiao-salgado-apos-premio-em-londres.ghtml

https://www.portaldosjornalistas.com.br/sebastiao-salgado-anuncia-aposentadoria/

https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/noticia/2024/02/sebastiao-salgado-anuncia-aposentadoria-clsocik11004e01f7s9i2cdeg.html 

https://portal.sescsp.org.br/online/artigo/13408_SESC+AVENIDA+PAULISTA+APRESENTA+GOLD+MINA+DE+OURO+SERRA+PELADA+DE+SEBASTIAO+SALGADO 

https://refloresta.institutoterra.org/home 

13 comentários:

  1. Amo o trabalho de Sebastião Salgado. Em um mundo onde a destruição impera, ele é oásis. Verdadeira inspiração como artista e como ser humano.

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  2. Uma alegria ler o teu contar…Que lindo!!! “Um significa o outro..” lindo!!! Obrigada… (IsaRe)…

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  3. Precisamos de mais Salgado em defesa do planeta, que se esvai dia a dia com nossas ações depredadoras. Bjs

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    1. Precisamos da ação consciente de todos nós, de todo o mundo! Obrigada.....

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  4. Salgado já se tornou um ícone! Abs, Anita. Texto bonito e necessário!

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  5. Comentário de Lilian Conde:
    Anita, li e tentei comentar, mas a janela de comentários não está disponível. Meu comentário seria: Quem disse que nada é eterno? As fotografias de Sebastião Salgado e Lelia fazem esse milagre. Vestem de eternidade cenas e rostos que, capturadas pelo obturador fotográfico, imprimem em nossas retinas e dessa para a alma, a sensibilidade dos autores registrada em obras icônicas resguardando sua beleza na história, ainda que dolorida.

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  6. Sebastião Salgado é magnífico! Você e o seu texto muito significativo. Bebel

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