quarta-feira, 12 de março de 2025

Ecos Humanos | O choro de Luighi

Foto: Divulgação
Não gosto de futebol, muito menos do tipo que se vê hoje em dia, que mais parece luta livre, intimidação, quando não puro jogo de cena etc.. Não torço para nenhum time e, desculpem-me os fãs ardorosos, mas não acredito que o futebol arte ainda exista. Porém, não escapamos de algumas notícias. Pois bem! Luighi Hanri Sousa Santos, tem 18 anos, é ariano, natural de São Paulo e, como muitos de sua geração, sonhava ser jogador de futebol. Em um jogo no Paraguai, no [último dia 06 de março, ele foi alvo de uma ofensa racista por parte de torcedores do time paraguaio Cerro Porteño, em disputa válida pela Conmebol Libertadores sub-20. O Verdão venceu o confronto por 3 a 0. 
Ao menos isso, muitos dirão, mas isso é o que menos importa. Foi outra imagem que correu mundo, percorreu vários clubes, confederações, países, veículos de comunicação. Todos viram o choro sentido do jogador, ainda da equipe de formação do Palmeiras. Depois das agressões, ele chamou a atenção do juiz, que apenas pediu para ele deixar o campo. No banco, ele não se aguentou, chorou e chorou. Após o jogo, foi chamado à uma entrevista e chorou novamente.  Mas sua consciência, duramente aprendida na dor de vivenciar esse preconceito, há tanto tempo, falou mais alto. Rapaz corajoso, consciente de seu papel para influenciar e servir de exemplo aos mais jovens, caráter forjado pelo apoio da família, Luighi questionou o repórter local que foi entrevistá-lo:

Não, não. É sério isso? Vocês não vão me perguntar sobre o ato de racismo que ocorreu hoje comigo? É sério? Até quando vamos passar por isso? Me fala, até quando? O que fizeram comigo é crime, não vai perguntar sobre isso? Vai me perguntar sobre o jogo? A Conmebol vai fazer o que sobre isso? Ou a CBF, sei lá. Você não ia perguntar sobre isso né? Não ia. É um crime o que ocorreu hoje. Isso aqui é formação, estamos aqui para aprender.

Mais tarde reforçou que esse preconceito acontece em todos os lugares e ambientes, não só no futebol. Nós sabemos disso, não? Será mesmo? Infelizmente, o racismo, o preconceito de qualquer tipo e a violência, em geral, parecem ter sido banalizados a ponto de um jornalista [alguém da imprensa que (teoricamente) deveria trazer informações importantes e verdadeiras para a sociedade sobre fatos acontecidos] ver tudo aquilo e ignorar, como se nada houvesse. Quem não pensa, não toma partido, não denuncia o mal, torna-se cúmplice dele. Uma certa filósofa alemã falou muito a esse respeito. (Leia aqui e aqui).

Triste para Luighi, muito triste para a imprensa, tristíssimo para a sociedade.  

Vários clubes e jogadores brasileiros, em especial Vinicius Júnior, alvo recorrente de racismo na Espanha, se posicionaram em apoio e solidariedade a Luighi, incitando-o a não desistir e a continuar lutando. A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, tem pressionado as autoridades competentes a se posicionarem de forma firme contra esses crimes. Resta saber o que farão os clubes e entidades esportivas daqui e do mundo. É inócuo dizer que "repudiamos" e "somos contra". É preciso agir firme com atitudes concretas, porque, infelizmente, já sabemos onde a impunidade leva. Até quando? 

Que isso sirva de lição e de alerta à sociedade e aos pais: é urgente lembrar, praticar e ensinar que a cor do sangue que bate no coração de cada ser humano é sempre vermelha, apesar dos diferentes tons de pele. A prática do respeito deve ser diária, a todo instante.  

Referências

Instagram do jogador: @luighihanri

https://www.palmeiras.com.br/jogadores/luighi-hanri-sousa-santos/

https://ge.globo.com/futebol/times/palmeiras/noticia/2025/03/07/chefe-da-base-do-palmeiras-diz-que-torcedor-que-ofendeu-luighi-foi-identificado-racistas-nao-vencerao.ghtml

14 comentários:

  1. Foi revoltante,amiga. Sem palavras.

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  2. Os insensatos viram as costas para esse drama tocante/ j.campos

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  3. É sempre muito triste ver pra onde a humanidade está indo. É já passou da hora do BASTA BAAAASTAAAA

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  4. Tutto questo è veramente intollerabile (succede anche da noi) speriamo che la FIFA E UEFA facciano qualcosa di veramente importante, per stroncare questa situazione che non si deve sottovalutare.Ciao Tonino

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  5. É um absurdo. Imagine quem passa por isso a vida inteira. Gerações de pessoas a ouvir essa coisa doentia... me solidarizo com o moço que chorou e tenho fé de que isso um dia acabe, porque seguir assim não dá!

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  6. Muito bom texto! Isto tem que mudar,tem que haver respeito, somos todos iguais perante a Deus. Espero que mude isto e que aja amor,respeito,afeto ao próximo é que o Ser Humano possa melhorar mais.Bebel

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  7. Excelente texto, Anita! Ele teve a ombridade que faltou ao repórter e a tantos outros que fizeram/fazem vista grossa ao racismo. Parabéns pra ele, pela coragem, força, dignidade, e pra você, pelo texto impecável. Bjs, telma

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    1. Obrigada, querida... E como falta ombridade nas pessoas, né? Além de respeito, solidariedade, empatia, coragem... Tbm aplaudi de pé a coragem do Luighi...seguimos batalhando, beijos

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    2. Sim, isso mesmo, e como falta!
      Seguimos.. ♡

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  8. O jovem Luighi mostrou a toda a sociedade o quanto se faz urgente uma mudança significativa.
    Já passou o tempo em que situações como essa, passavam desapercebidas. Vergonha
    por pelo silêncio diante de tantos preconceitos.

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  9. Anita, você verbalizou nossa revolta com o ocorrido com Luighi. Chorei ao vê-lo indignado e com a omissão da mídia. Deu-me vergonha de pertencer a essa categoria. Bjs. Vanilda

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    1. Oi, Vanilda... Pois é, nem todos os profissionais têm a coragem de desafiar as ordens tortas dos patrões e ir em busca da justiça... Mas ainda bem que não são todos, né? Há salvação... beijos

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  10. Anita querida, só agora tô lendo esse blog. Também não presto muito atenção a futebol, só de vez em quando uma notícia sobre algo extraordinário. E, infelizmente, os atos de racismo contra jogadores negros são comuns; como você disse, estamos todos dessensibilizados. O que podemos fazer, nós, os que estamos "de fora," assistindo casos assim? Por um lado, intervenção e denúncia no momento mesmo em que testemunhamos o ato de racismo (e a polícia ou oficiais no estádio, reagiriam para censurar os criminosos?); e por outro lado, uma campanha de pressão junto às entidades do mundo do futebol. Vamos lá?

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    1. Vamos, Cris, o tempo toqdo e cada vez mais alto. Uma hora vão ouvir ... Um beijo

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