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Durante uma era glacial remota, quando parte do globo
esteve coberto por densas camadas de gelo, muitos animais não resistiram
ao frio intenso e morreram indefesos, por não se adaptarem às condições do
clima hostil.
Foi então que uma grande manada de porcos-espinhos,
numa tentativa de se proteger e sobreviver, começou a se unir, a se juntar mais
e mais. Assim, cada um podia sentir o calor do corpo do outro. E todos, juntos,
bem unidos, agasalhavam-se mutuamente, aqueciam-se, enfrentando por mais tempo
aquele inverno tenebroso.
Porém, vida ingrata, os espinhos de cada um começaram
a ferir os companheiros mais próximos, justamente aqueles que lhes forneciam
mais calor, aquele calor vital, questão de vida ou morte. E afastaram-se
feridos, magoados, sofridos. Dispersaram-se, por não mais suportarem os espinhos
de seus semelhantes. Doía muito...
Mas essa não foi a melhor solução; afastados,
separados, logo começaram a morrer congelados.
Os que não morreram voltaram a se aproximar pouco a
pouco, com jeito, com precauções, de tal forma que, unidos, cada qual
conservava uma certa distância do outro, mínima, mas o suficiente para conviver
sem ferir, para sobreviver sem se magoar, sem causar danos recíprocos. Assim
suportaram-se resistindo à longa era glacial.
Sobreviveram.
[O autor da fábula é o filósofo alemão Arthur
Schopenhauer, 1788-1860].