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Apontar o dedo para alguém denota atitude agressiva e
até autoritária. Além disso, como já disseram por aí, também demonstra a
existência de alguém que não percebe para onde apontam os outros três dedos. Tentando entender um pouco mais a questão da crítica pura e simples,
aquela que não acrescenta nada de criativo e transformador, achei alguns
pensamentos bem interessantes.
- Sêneca (4 a.C.-65)
argumentava que os homens podem dividir-se em dois grupos: os que seguem em frente e
fazem alguma coisa e os que vão atrás a criticar.
- Santo
Agostinho (354-430) mencionava preferir a companhia dos que
o criticavam (porque o corrigiam) aos que o elogiavam, porque o corrompiam.
- Goethe
(1749-1832), mais incisivo, dizia que o mais duro dos críticos é o amador malogrado.
- Mark
Twain (1835-1910), escritor
norte-americano, lamentava que todos criticassem seu tempo, mas nada faziam para
começar a melhorar a si mesmos, com coragem e honestidade.
- Abraham
Lincoln (1809-1865) afirmava que só
tem direito a criticar aquele que quer ajudar e que, antes de começar a criticar
os defeitos de quem quer que fosse, o indivíduo deveria enumerar ao menos dez dos seus
próprios.
- Mohandas (Mahatma) Gandhi (1869-1948) dizia que devemos ser a mudança que queremos ver no
mundo e que a mensagem a ser passada deve ser nossa própria vida.
- Mário
Sérgio Cortella (1954),
filósofo, educador e escritor, em seu livro Não
‘Nascemos Prontos!’ lembra que é necessário fazer outras perguntas, ir
atrás das indagações que produzem o novo saber, observar com outros olhares
através da história pessoal e coletiva, evitando a empáfia daqueles que supõem
já estar de posse do conhecimento e da certeza.
Enfim, o que não faltam são coleções de frases sobre o
ato de criticar, por parte daqueles que acham que estão sempre certos. Na
verdade, isso é o que mais vemos nos nossos tempos: críticas, críticas e
críticas. Todos apontam o dedo para outros, julgam e já dão a sentença em lugar de identificar suas próprias
limitações e fazer um exame das próprias ações, ou ainda das razões do outro e das explicações vindas de todos os lados.
A regra de ouro também já existe, há milhares de anos, nas mais variadas filosofias: colocar-se no lugar do outro. Ou como, sabiamente, diziam minha avó e minha mãe, não se conhece uma pessoa e suas razões até que tenhamos comido um saco de sal com ela!
A regra de ouro também já existe, há milhares de anos, nas mais variadas filosofias: colocar-se no lugar do outro. Ou como, sabiamente, diziam minha avó e minha mãe, não se conhece uma pessoa e suas razões até que tenhamos comido um saco de sal com ela!
Como qualquer outro profissional que trabalha com línguas, tradutores também podem também errar: errinhos de interpretação, entendimento ou tradução, mesmo, pressão do tempo, digitação. Enfim, não deveria, claro, mas acontece. Em que pese sua atenção, habilidade e empenho, nem sempre o tradutor consegue encontrar, na língua de chegada, o melhor termo, a frase mais sonora ou a representação mais verossímil do texto original. Mas, acreditem, como (incorretamente) pode sugerir o célebre ditado italiano Traduttore traditore, o tradutor não é um traidor. Pelo contrário, seu trabalho consiste em pesquisar, garimpar e analisar seus achados, horas a fio, para descobrir a solução mais adequada. Em última análise, todo tradutor sofre de uma doença bem conhecida entre nós da área, conhecida como “angústia tradutória”. Inevitável.
A colega tradutora Sheila Gomes, editora do blog Multitude, discorreu sobre o tema e, como ela sugere, seu entendimento pode ser alargado e sua aplicação, extrapolada para outros campos
profissionais. Agradeço à Sheila por permitir sua divulgação aqui.
Errar
Sempre podemos escolher entre errar repetidamente
ou cometer erros novos para aprender mais. Quem gosta de errar? Eu não. Não
gosto de perceber que errei, ou pior: que percebam que eu errei. Mas ainda
prefiro mil vezes que alguém note, seja eu ou outrem, para poder consertar. E
tento reforçar a minha ideia de que um erro do presente é uma garantia a mais
de acertar no futuro, uma forma de atentar para algo que até então passava
despercebido e uma oportunidade de aprendizado. Tento sempre agradecer quando apontam um erro
meu, mas ainda acho muito chato quando isso acontece em público. Prefiro a
política de elogiar em público, mas apontar erros privadamente, e sempre com
cuidado e educação. Eu já fui bem mais insegura profissionalmente e tomei
decisões desfavoráveis por terem apontado algum erro meu. O ataque à
autoestima, que já não era grande coisa na época, foi o suficiente para me
fazer duvidar da minha própria capacidade e pisar feio na bola, mais de uma
vez: são fases que todos passam até se firmarem como profissionais.
Isso se torna
ainda pior quando há trabalho colaborativo em questão: funcionar bem não
significa não cometer erros, mas lidar com eles como uma equipe, aproveitando
os pontos fortes de todos para compensar e lidar com os fracos. Recriminação não
leva a lugar algum, mas encarar
o problema e desenvolver táticas em conjunto para resolvê-lo, sim. Algo que
pode ser aplicado em todas as atividades em grupo: fóruns, equipes de trabalho
e coletivos profissionais. Se apontar erros alheios faz alguém se sentir melhor
por perceber que ao menos esse erro não cometeria, perceber e guardar para si
essa percepção ajuda duas pessoas: você e o outro, que talvez nem teria
merecido recriminações, pois nem sempre os erros são cometidos pela pessoa que
pensamos. Um bom exemplo são erros em legendas de filmes ou em livros
traduzidos: muitos reclamam do tradutor, quando há vários outros profissionais
envolvidos que poderiam ter errado também.
E um risco
grande que se corre ao ficar de olho nos erros dos outros é perder de vista os
próprios. Aliás, esse já é um trabalho grande o suficiente para tomar nossa
atenção e deixarmos os outros em paz. E nos faz economizar tempo para
investirmos em formas de lidar com os erros que fatalmente cometeremos.
“Aprender a
cair”, prestar mais atenção ao modo que nos expressamos para criar a impressão
desejada, adotar
formas de fala seguras e
equilibradas. Tudo isso é
útil e contribui ao nosso crescimento pessoal e profissional muito mais que
prestar atenção aos erros alheios.
Todos
queremos ter sucesso na carreira e um passo importante para isso é estabelecer
uma reputação favorável não apenas entre clientes, mas também entre os pares.
Isso contribui para futuras parcerias e para elevar o nível do mercado inteiro.
Saber que fazemos parte de uma rede colaborativa nos impulsiona a
participar de forma melhor e mais eficaz. Relações humanas baseadas
na boa vontade favorecem os envolvidos e tendem a evoluir quando todos
estão dispostos a:
☼ ceder de vez em quando;
☼ oferecer opiniões apenas quando
solicitadas;
☼ não deixar o ego tomar conta das
interações;
☼ não fazer escolhas apenas por conta
própria, mas oferecê-las para uma decisão coletiva.
Afinal de
contas, quem quer ser feliz e bem-sucedido sozinho? Para que não seja assim, é
preciso abrir mão de algo. E quando fica difícil de entender ou interagir
com o grupo, uma boa ideia é aprender a ler as pessoas a
partir de outros pontos de vista.
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