quarta-feira, 16 de março de 2022

Ecos literários | O sol é para todos

Conheço o clássico O Sol é para todos (To Kill a Mockingbird) da escritora norte-americana Harper Lee (1926-2016), há alguns bons anos. Já quis lê-lo em várias ocasiões, mas nunca deu, até que minha filhota comprou o livro e pude lê-lo sem pressa. Considerado um dos melhores romances do século XX, o livro foi citado, elogiado, trabalhado e discutido no meu primeiro curso de inglês, na União Cultural Brasil-Estados Unidos, em São Paulo, lá na Rua Coronel Oscar Porto, a long, long time ago.  Lançado em 1960, o livro ganhou o Prêmio Pulitzer em 1961 e, até hoje, bate recordes de vendagem, por tratar-se de uma história atemporal sobre racismo, preconceito, intolerância e injustiça. Em 1962, foi transformado em filme. Indicado para oito categorias do Oscar, ganhou três: Melhor Ator para Gregory Peck, Melhor Roteiro e Melhor Direção de Arte. Também foi adaptado para o teatro em várias cidades. Tanto o livro como o filme foram e ainda são aclamados, pelos atualíssimos temas abordados que persistem não só nos Estados Unidos, onde se passa ação, mas também aqui, abaixo da linha do Equador, na Europa e no mundo todo. Tivemos várias confirmações disso nesses últimos dias, não?    
 
Harper Lee, 1962. Divulgação
Depois do livro e do filme, Harper Lee  retirou-se da vida pública. Era avessa aos holofotes e a entrevistas, em geral, e dizia -- “o que eu tinha para falar eu já disse e não direi de novo”.  Em 2007, após um derrame, passou a viver em uma casa de idosos perto de sua cidade natal, no Alabama. Ainda em 2007, Harper Lee foi premiada com a Medalha Presidencial da Liberdade e, em 2010, com a Medalha Nacional de Artes. Seu livro foi citado por Barack Obama como “o melhor livro contra todas as formas de racismo”. Cinquenta e cinco anos depois de lançar seu único livro, ela lançou, em 2015, Go set a watchman (Vá, coloque um vigia), sequência de O sol é para todos e que se passa 20 anos depois do julgamento. Beatriz Horta, a tradutora do primeiro livro da autora, também traduziu este segundo romance.  

Jem, Scoutt e Dill, no filme (1962)

O Sol é para Todos é narrado pelos olhos de Jean Louise (Scout), uma garota perspicaz de 6 anos, órfã de mãe, que mora com o irmão mais velho (Jem, 13 anos), seu pai, o advogado Atticus Finch, e uma governanta. A história se passa em meados de 1930 em uma cidade do interior do Alabama, um dos estados no Sul do país que abrigavam a temida e odienta Ku Klux Klan.  Com a cidade claramente dividida entre brancos e negros, o livro mostra o de sempre – os preconceitos da classe média branca contra os negros, pobres e atuando como mão de obra barata e desvalorizada. Na primeira parte do livro, a garota fala das aventuras que ela, seu irmão Jem e o amigo Dill viveram naquele verão e sua curiosidade sobre um estranho vizinho, Arthur Radley (Boo). Na segunda, fala da curiosidade infantil sobre o julgamento de Tom Robinson, negro injustamente acusado de um crime bárbaro contra uma jovem branca, também de família pobre. O pai de Scout, Atticus Finch foi o advogado de defesa de Tom, o que trouxe tristeza e perplexidade à família Finch, em função do preconceito com que a menina e sua família foram tratados a seguir.  

Atticus Finch e Tom, no filme (1962)

Não vou contar o que houve, mas para bom entendedor.... Aliás, outro ótimo filme, Hurricane (Furacão), com Denzel Washington, também mostra o preconceito escancarado não só de gente comum, mas também do poder constituído contra os negros. Poder dos que encarnam a justiça e deveriam ser justos com todos. Quem não assistiu a nenhum desses dois filmes, deve assisti-los. São doídos e  verdadeiros. Quem não ficar indignado e com vergonha do ser humano deve estar doente do pé ou da alma.   

O livro prossegue narrando a tentativa de vingança de um membro da comunidade contra os filhos do advogado de defesa. O diálogo final entre Atticus e Scout esclarece o título do livro em inglês To Kill a mockingbird. Condenar alguém que impediu a vingança (sem spoiler, lembram-se?) seria como matar um rouxinol, símbolo da pureza e da inocência, portanto, seria uma injustiça, o que sempre ocorre quando há preconceito e prejulgamento. A última fala do pai à menina nos dá esperança: “A maioria das pessoas são boas quando finalmente as conhecemos.” Viva a Literatura! 

Livro: O sol é para todos (To kill a mockingbird)
Autora: Harper Lee
Tradução: Beatriz Horta
Ano da primeira publicação: 1960

Referências
http://www.oprazerdaliteratura.com.br/search/label/Resenhas
https://pt.wikipedia.org/wiki/To_Kill_a_Mockingbird
https://www.ebiografia.com/harper_lee/

8 comentários:

  1. Vou procurar. Acho que tenho ele aqui. Releitura é sempre bom. Obrigada pela dica.

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  2. Anita, quanta injustiça ainda existe. É incrível o preconceito de cor, raça,etnia . Vou ler este livro. Obrigada ❤️ Maria Inez Carvalho

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  3. Realmente dois filmes excelentes que têm o condão de esfregar em nossos rostos a torpeza humana e a grandiosidade a que podemos chegar quando se ultrapassa a linha do pré-conceito e se clama por justiça social! Ver além do próprio umbigo é essencial!

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  4. e viva o cinema de qualidade também. Alias, sempre penso que o mundo seria melhor e o sol seria um pouco mais para todos se houvesse Arte por toda parte. Uma arte que transformasse cada um de nós em seres melhores certamente.
    bjs.
    Carlos SA

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  5. Ótimo Anitinha! Que algum dia o sol possa realmente brilhar para todos.Me interessei pelo livro.Vou procura‐lo.

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  6. Ótimos os 2, filme e livro. Sempre verdadeiros e atuais.

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