sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Ecos Urbanos | O papel do espaço público

Em geral, o espaço público é visto, muitas vezes e erroneamente, como lugar de ninguém, o que é um terrível engano. Na verdade, trata-se de um lugar de todos e pelo qual todos somos responsáveis. Desde a antiguidade, o espaço público é fundamental na formação e composição das cidades, e na interação social da população. São públicos, espaços de uso comum, aos quais a população tem acesso livre. Parques, jardins, largos, praças, ruas e calçadas têm a função social de oferecer espaço para lazer, encontros, trocas, convivência, construção de laços comunitários, exercício da cidadania, sociabilização, expressões artísticas, culturais, esportivas e políticas.  
 
Caxambu, MG. Parque das Águas. Foto: Anita Di Marco
Em tese, devem ser limpos, agradáveis, acolhedores, de fácil manutenção e sem barreiras físicas para atuar como o que são: espaços  abertos e democráticos. Quando seguros, bem cuidados, iluminados e acolhedores transformam qualquer cidade. Falando em limpeza, pense, por um instante, na sua cidade:  como estão as ruas, calçadas, parques, praças e bueiros de sua cidade? Limpos, desentupidos? Sem lixo acumulado, sem embalagens descartáveis jogadas, sem copos ou sacolas de plástico voando pelas calçadas? Parabéns, então, aos seus gestores e à população em geral. Você faz parte daquela porcentagem que não considera que a rua seja uma grande lixeira. É de uma cidade assim que todos precisam.
 
Então, acrescente alguns equipamentos a alguns espaços públicos bem cuidados e, então, você terá um espaço digno das crianças. Elas poderão brincar, explorar seu pequeno mundo, fazer amizades, desenvolver suas habilidades físicas e, sobretudo, aprender a conviver. Essas crianças acabam se mostrando mais ativas, ágeis, amigáveis e mais saudáveis física, mental e emocionalmente. Além disso, não é segredo que uma cidade que tem bons espaços para crianças é boa para todos. Qualquer cidade limpa, organizada, com bons serviços e espaços públicos bem cuidados proporciona qualidade de vida para todos e atrai visitantes e empresas, o que acaba por gerar receita também para o comércio, os serviços e o turismo.

Agora a pergunta-chave:quem deve cuidar do espaço público?  Ora, todos nós: tanto o poder público quanto a sociedade civil, ou seja, gestores, empresários, comerciantes, moradores e turistas, num belo exemplo de gestão compartilhada. Se o poder público é responsável pelo lado material (construção, instalação e manutenção do espaço e dos equipamentos), a sociedade civil deve responsabilizar-se pelo seu bom uso, refreando e educando aqueles que depredam os equipamentos, que jogam lixo no chão, que não respeitam as regras de convívio social civilizado. Quando a população usa e se apropria de um equipamento, espaço urbano ou um bem, histórico ou não, ela vai se habituando com o local, passa a apreciar e a usufruir com satisfação daquele espaço, desenvolve um sentido de pertencimento e a tratar esse bem com mais afeto, mais cuidado e carinho.  

Como sabemos, a educação é a única resposta para aumentar a conscientização da população sobre seus direitos e deveres em geral. Um bom exemplo sobre o papel do espaço público em uma aglomeração urbana e da responsabilidade de todos em sua conservação vem da Coperil Escola, cooperativa educacional fundada em 1991 em Irecê, cidade situada a ~580 km de Salvador. Focalizando o que é o espaço público, a escola ouviu alunos, professores, funcionários e a população local.  

Parafraseando um professor da Coperil, "a praça é do povo, como o céu é do condor!" Então, que cada um faça sua parte! 

 Referências  

https://www.youtube.com/watch?v=Bj8L_s0OfEg   

https://via.ufsc.br/espacos-publicos-de-qualidade/

https://plantarideias.com.br/beneficios-dos-espacos-publicos

https://ufop.br/noticias/em-discussao/importancia-do-entendimento-e-ocupacao-do-espaco-publico

https://www.solucoesparacidades.com.br/blog/10-beneficios-da-criacao-de-bons-espacos-publicos/

https://www.wribrasil.org.br/noticias/como-qualificar-espacos-publicos-para-infancia-experiencias-e-aprendizados-em-sao-paulo

 https://www.archdaily.com/1022027/designing-shared-rural-environments-defining-public-spaces-beyond-urban-metrics   

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Ecos Culturais | Caderninhos

Para relaxar a mente, seja no campo profissional ou não, todo mundo tem suas idiossincrasias ou manias. Alguns escolhem a música; uns pintam, outros dançam, leem, fazem trabalhos manuais, atividade física, yoga, meditação...outros correm e, estranhamente, quando esquecem o fone de ouvido, não conseguem correr!
Muitos escrevem, tomam nota, rabiscam e usam blocos, cadernetas ou cadernos de referência, os chamados commonplace books, em inglês. Sua origem remonta aos tempos da Grécia e da Roma antigas; foram muito comuns no Renascimento e muito usados por arquitetos, artistas e pensadores de todos os tempos. Suas páginas guardavam linhas, traços, planos, ideias, desenhos, poemas, lembretes. Thomas Jefferson, John Locke, Le Corbusier e Victor Hugo são alguns dos nomes conhecidos que usaram esses livretos. Aliás, ainda não vi um único arquiteto que não tenha um desses caderninhos...

No meu caso, desde jovenzinha, gosto de escrever. Não que eu não tenha tentado outras atividades como pintar, dançar, bordar e até costurar, mas meu negócio é a escrita, a linguagem, a rede de palavras e seus significados, e tudo o que acompanha essa prática. Adoro lápis de todos os tipos e cores, penas, canetas e canetinhas, mas, principalmente, blocos, bloquinhos, cadernos, cadernetas e caderninhos: de couro, de tecido, de moleskine, pintados à mão ou não, de papel artesanal, com ou sem pauta.

São delicados e práticos, estão sempre por perto, na bolsa, no bolso, na mochila. Acolhedores silenciosos, são espaços que recebem, sem questionar, minhas reflexões, ideias momentâneas e dúvidas, meus lembretes, pensamentos, rabiscos, instantes de "eureka" e insights mais profundos, rascunhos de textos ou poemas.... Não se trata de um diário, não fica trancado a sete chaves, nem vou ficar desesperada se alguém o ler, mas não há dúvida de que é meu, é personalizado. É como se fosse o pré-roteiro de um filme prestes a ser produzido, com a descrição do modo de ser e pensar de determinado personagem.

Afinal, escrever pode ser bem mais fácil do que falar e, ao escrever, é possível ordenar os pensamentos, trazer mais foco e clareza ao pensar, e ter mais discernimento quando se trata de fazer uma análise crítica de algo ou mesmo uma autoanálise, o autoconhecimento. Ao colocar para fora o que se pensa ou sente, é possível entender determinadas atitudes e situações vividas, agora entendidas sob outro ponto de vista. Ao escrever pode-se ressignificar experiências, mudar rotas, refazer a própria história ou lidar melhor com o novo, já que a vida não acontece de forma linear.

Enfim, ao escrever e, depois, ler o que escrevemos podemos entender melhor os outros e entender melhor nosso próprio ser, porque nessa hora estamos longe do calor do ocorrido; podemos desenvolver um outro olhar sobre uma situação passada e esse novo olhar, com certeza, vai reverberar no seu dia a dia de outra maneira. Como sabiamente disse certo médico mineiro que atravessou sertões e cruzou veredas:  

O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim de repente, na horinha em que se quer, de propósito ― por coragem. Será? Era o que eu às vezes achava. Ao clarear do dia. (ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas, p.293).

Referências

http://desenhandopercursosurbanos.blogspot.com/2009/12/cadernos-de-croquis-de-le-corbusier.html

https://rhollick.wordpress.com/2021/10/29/commonplace-books/

http://papolie.com.br/