sexta-feira, 27 de junho de 2025

Ecos Culturais | Ah, as festas juninas!

Junho é mês das festas juninas, de longe as minhas preferidas ao longo do ano. O Natal vem em segundo lugar!   

É verdade que, nem sempre, consigo ir a alguma grande festa, mas gosto do tema e até já fiz minha comemoração aqui em casa com tudo aquilo a que temos direito – pipoca, amendoim torrado, vinho quente (melhor do que quentão para mim), canjica, toalha xadrez e, é claro, fogo (pode ser com fogão de lenha, lareira ou aquecedor mesmo). Afinal, o calor do fogo não pode faltar, porque calor humano é o que tem de sobra nessas festas com a sanfona, a viola, as músicas, as danças, as pessoas a caráter, alegres, cantando e dançando, as deliciosas comidas, as bebidas típicas, bandeirinhas coloridas, a quadrilha, o casamento caipira, o padre, o correio elegante... Tudo uma delícia, momentos de encontro e descontração, vividos com a alegria típica das mais puras manifestações culturais populares do nosso país.  

Mas se tudo isso já é assim tão divertido, aqui no Sudeste, imagine nas diversas cidades do Nordeste. Se a região, naturalmente, já transborda alegria, encantamento, gentileza, boa comida, cantoria e dança o ano todo, imagine agora nas festas juninas. Um dia, sabe-se lá quando, ainda vou a Caruaru, Campina Grande, Petrolina, Aracaju ou.... mas vou.

Vejam as quadrilhas, por exemplo. Relativamente simples, mas sempre agradáveis desde sempre, hoje, elas são cheias de bossa, novidades e, até mesmo, vêm se transformando, no Nordeste, em verdadeiros espetáculos de canto, dança, fantasias e significados temáticos. Um show de cultura popular viva! Não deixe de ler, nesta edição da Cajueira (aqui), a matéria sobre as festas juninas locais, mostrando os principais temas dos diversos grupos da região, quase como grandes sambas-enredo contando histórias, discutindo, questionando e protestando.

Viva o Nordeste, viva a cultura brasileira, viva as festas dos santos festejados em junho!

Referências

https://anitadimarco.blogspot.com/2015/06/cultura-tradicao-yes-nos-temos-festas.html

https://anitadimarco.blogspot.com/2019/06/ecos-culturais-yes-viva-sao-joao.html

https://cajueira.substack.com/p/as-mensagens-e-significados-das-quadrilhas 

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Ecos arquitetônicos | Novos usos em edifícios religiosos


A mudança de uso de edifícios históricos, inclusive religiosos, e as muitas e necessárias adequações para acomodar o novo uso já foram tema aqui no blog Anita PluralSe ainda não leu, leia aqui, aqui e aqui, por exemplo, três pequenos textos sobre o tema. As várias intervenções de retrofit, na área central de muitas capitais brasileiras, só para citar uma modalidade, são práticas atuais. Ao redor do mundo, essa mudança de uso ocorre, basicamente, em função do alto custo de manutenção dos imóveis e da diminuição da intensidade de uso. Na Europa, a justificativa é a diminuição do uso religioso de templos, igrejas e santuários. Alemanha, Países Baixos, Bélgica, Estados Unidos e Coreia do Sul, por exemplo, estão entre os países que, apesar de cuidar de seu patrimônio religioso, não hesitam em mudar o uso para preservar o bem histórico. Segundo amigos holandeses, é totalmente normal  modificar o uso de edifícios religiosos naquele país, uma vez que muitos não mais acreditam em nenhum deus. Os novos usos são os mais variados e incluem bibliotecas, centros culturais, livrarias, moradias, lojas, clínicas, cafés e até piscinas.
 
Cortesia de © MVRDV, Zecc Architecten.
Um caso bem recente vem justamente do Sul dos Países Baixos, de Heerlen, cidade com cerca de 90.000 habitantes. Trata-se da igreja de São Francisco de Assis que irá abrigar uma piscina pública. Construído há pouco mais de um século, o edifício é tombado e sua estrutura, muito bem conservada. Como os serviços religiosos foram diminuindo até serem interrompidos em 2023, surgiu a proposta de transformar seu uso para, ao mesmo tempo, garantir uma utilização ativa e proteger o patrimônio. Aliás, a proposta é parte de um projeto mais amplo de transformação do centro histórico da cidade. A prefeitura instituiu um concurso para escolher um novo uso comunitário para o imóvel e a proposta vencedora foi a dos escritórios MVRDV e Zecc Architecten. Apelidado de Água Santa, o projeto propôs manter a função social do imóvel e preservar seus elementos históricos, a partir de uma abordagem moderna que respeitasse e integrasse passado, presente e futuro. O prazo para a entrega é final de 2027.  
 
Cortesia de © MVRDV, Zecc Architecten
Os desenhos divulgados pelo escritório mostram como ficará a proposta: o púlpito, por exemplo, será usado como lugar do salva-vidas e, além de utilização da nave central e das laterais, os arquitetos propuseram a inserção de um piso móvel. Bem, nunca vi piso móvel; até agora eu conhecia teto móvel, como o da Sala São Paulo (ver aqui). Enfim, o novo piso trará flexibilidade ao uso do antigo edifício e irá adequar-se às atividades propostas: se elevado, o piso esconderá a água, criando uma superfície para eventos culturais e sociais; se rebaixado, criará uma fina lâmina d'água dando a impressão que os usuários caminham sobre a água. 
 
O fato é que a mudança de uso, quando bem fundamentada, aumenta a vida útil de qualquer imóvel e, este é um princípio da boa arquitetura: busca-se utilizar bem os recursos existentes, sobretudo os ambientais, preservar as estruturas em bom estado e priorizar a adequação do imóvel a novos usos, em vez de optar pela pura e simples demolição. Assim, trabalha-se em prol do meio ambiente, os custos são reduzidos, aumenta-se a eficiência ambiental e garante-se uma vida útil mais longa à estrutura em questão.  

Referências:

ttps://anitadimarco.blogspot.com/2023/08/ecos-arquitetonicos-espacos-de-adoracao_11.html

https://anitadimarco.blogspot.com/2023/08/ecos-arquitetonicos-espacos-de-adoracao.html

https://anitadimarco.blogspot.com/2015/03/paisagem-construida-sala-sao-paulo.html

https://anitadimarco.blogspot.com/2022/02/ecos-urbanos-o-palazzo-que-virou.html

https://mymodernmet.com/heerlen-church-pool-mvrdv-zecc/

https://www.euronews.com/culture/2025/04/19/dutch-architecture-studios-design-a-church-turned-pool-where-you-can-walk-on-water

https://www.dezeen.com/2025/04/17/holy-water-swimming-pool-mvrdv-zecc-architecten-church-netherlands/

https://www.archdaily.com/1029185/mvrdv-and-zecc-architecten-to-transform-vacant-church-into-public-swimming-pool-in-heerlen-the-netherlands?utm_medium=email&utm_source=AD%20EN&kth=539,924 

https://www.archdaily.com/915700/rethinking-sacred-spaces-for-new-purposes?ad_medium=widget&ad_name=related-article&ad_content=1029185

https://www.archdaily.com/927944/restoration-of-abandoned-church-connects-man-nature-and-god?ad_medium=mobile-widget&ad_name=related-tags-article-show

https://commonedge.org/what-would-jane-jacobs-do-toward-a-new-model-for-houses-of-worship/

Antonia Piñeiro. "MVRDV and Zecc Architecten to Transform Vacant Church into Public Swimming Pool in Heerlen, the Netherlands" 17 Apr 2025. ArchDaily. Accessed 6 May 2025. <https://www.archdaily.com/1029185/mvrdv-and-zecc-architecten-to-transform-vacant-church-into-public-swimming-pool-in-heerlen-the-netherlands  

As imagens são cortesia dos escritórios © MVRDV, Zecc Architecten.   

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Ecos Culturais | Notícias falsas ou mentiras

A tragédia da disseminação insana e irresponsável das chamadas notícias falsas (nada de nome em inglês), que nada mais são do que mentiras deslavadas, virou um problema crônico, danoso e muito perigoso. Infelizmente, num país em que a grande maioria da população teve um letramento insuficiente, sobretudo uma população que tem cor, classe e região, a questão da interpretação de texto é complicada. Se muitos não entendem um texto pequeno, um cabeçalho até, como vão entender e discernir a verdade da mentira? O falso do verdadeiro? A realidade da canalhice? O fato real da manipulação? Já falei sobre isso a partir da resenha do livro Gramática da Manipulação da jornalista Letícia Salorenzzo (aqui).
 
Em maio de 2025, o premiado jornalista Leonardo Sakamoto, professor, doutor em Ciências Políticas e colaborador de vários veículos de notícias, publicou a coluna Brasil analfabeto midiático crê em tudo o que vem do zap e compartilha fake Vale muito a leitura! Crítico talentoso e sagaz, ele fala que, sim, "é verdade que falta amor no mundo, mas falta também capacidade de interpretação de texto". Certíssimo! Ele ainda cita uma pesquisa da Ação Educativa que alerta para a incapacidade de ~33% da população de ler compreender mensagens de forma eficaz.  Isso quer dizer que, ao menos, pensar criticamente utilizando a dimensão histórica em torno de qualquer fato está a anos-luz de 33% da população brasileira.  
 
Essa porcentagem representa indivíduos sem habilidade e pensamento crítico para discernir e entender o que leem e, por isso, acabam acreditando em tudo o que se compartilha nas redes sociais e, pior, de forma acrítica passam adiante o que leram. No mais das vezes, sem questionar a veracidade do conteúdo, porque a falsa informação atende ao que pensam. No artigo, Sakamoto ressalta que “se o analfabetismo funcional é terrível, o analfabetismo midiático é uma desgraça”. 
 
Infelizmente, sabemos que, se nossa capacidade de compreender um texto é baixa, não é melhor o conhecimento da história real do Brasil, que exige estudo, tempo, análise, desconfiômetro, questionamento, pensamento crítico e, sobretudo, uma bibliografia adequada e ampla, escrita por personagens com variados pontos de vista, não só o defendido pelos vencedores. Porque, 
na grande maioria das vezes, a história é contada pelos vencedores, pelos colonizadores, pelos dominadores: homens de uma elite branca, machista e preconceituosa. É urgente trazer à luz outras visões, falas de outros lugares, com outras percepções, outras conotações e vivências. 
 
Calma, não adianta brigar. Isso é fato. Eu vejo a história, a partir do meu ponto de vista, da minha perspectiva de mulher branca, mais velha, trabalhadora, escolarizada, de classe média, com curso superior e pós-graduação. Essa visão será diferente daquela de uma mulher negra, sem escolaridade, da classe baixa, trabalhadora e mais jovem; ou de um indígena, ou de um quilombola, ou... É evidente que a história será vista com outros olhos, a partir de outros pontos de vista. Isso é o tão falado "lugar de fala" e não significa o que eu falo, mas de onde eu falo, ou seja, de que lugar, de que vivências, de que pontos de vista... Enquanto isso, o que podemos fazer? Reivindicar uma educação de qualidade e oportunidades para todos, além de ampliar o lugar de fala dos que falam e escrevem sobre a história.   
 
Na questão midiática, inclusive, os tais algoritmos criam bolhas e aumentam essas diferenças, porque, de modo geral, a tendência é cada grupo se fechar e ficar só naquele círculo, sem relação com quem pensa diferente, sem  ouvir vozes vindas de outros personagens, diferentes de nós. Esse isolamento, essa bolha em torno de um modo de agir e pensar, não faz bem a nenhuma sociedade.  
 
Alerta. Desenvolver o pensamento crítico é fundamental e faz bem à saúde mental e emocional do praticante, portanto, à sociedade como um todo. 

Repetindo o que sempre diz e repete a professora e filósofa Marilena Chauí: pensar leva tempo e, portanto, moldar o pensamento crítico leva mais tempo ainda. Por isso, é preciso treinar  desde cedo esse olhar e esse pensamento crítico; é preciso ensinar a questionar e buscar a veracidade das informações; é preciso pensar criticamente, discernir e assumir a responsabilidade de não compartilhar textos mentirosos. Sakamoto, a esse respeito, ainda diz que “O letramento midiático é tema urgente no Brasil e no mundo para garantirmos um debate público saudável e o arrefecimento da ultrapolarização burra, que tenta destruir a diferença.”

Concluindo seu desabafo, Sakamoto lista dez regras para contribuir com esse processo de alfabetização midiática da população. Transcrevo o decálogo ípsis líteris:

1) Não compartilharás conteúdo noticioso sem antes checar a informação;
2) Não divulgarás notícias relevantes sem atribuir a elas fontes primárias de informação;
3) Postagens "apócrifas", sem fonte, jamais serão aceitas como instrumento de checagem ou comprovação;
4) Não esquecerás que informação precede opinião;
5) Não matarás - sem antes checar o óbito;
6) Lembrarás que mais vale uma postagem atrasada e bem checada que uma rápida e mal apurada. E que um número grande de likes não garante credibilidade;
7) Serás assertivo apenas naquilo que tens certeza do que diz;
8) Não se esquecerás que apuração precede pitaco;
9) Não terás pudores de reconhecer, rapidamente e sem poréns, o erro em caso de divulgação ou encaminhamento de informação incorreta;
10) Na dúvida, não compartilharás. Pois, tu és responsável por aquilo que repassas. Ou seja, se der m..., você também é culpado.

O jornalista e professor de jornalismo termina seu desabafo com um alerta: “Burrice não é falta de um conhecimento específico, nem a diferença nos padrões de fala, mas a atitude daquele que menospreza o conhecimento, seja ele qual for [...] e essa burrice mata o futuro!”

Referências

https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2025/05/05/o-brasil-analfabeto-midiatico-cre-em-tudo-que-vem-do-zap-e-compartilha-fake.htm 

https://anitadimarco.blogspot.com/2019/04/ecos-literarios-gramatica-da-manipulacao.html  

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Ecos Humanos | Conselhos e voltas que o mundo dá

A vida é circular e nos traz situações inusitadas, por vezes, antes do que esperávamos. Quando crianças, ou nem tanto, ouvíamos (e/ou questionávamos) os conselhos recebidos de pais, avós, tios, professores. Ai de nós se não ouvíssemos os conselhos – era machucado na certa, gripe, dor de dente, dor de ouvido, tombo, castigo, nota baixa e por aí vai... E palavra de mãe é como praga, pega mesmo... Depois crescemos e, então, chegou nossa vez de dar conselhos aos filhos. Hoje, diferentemente daquele tempo distante, nossos pequenos deixaram de ser pequenos e são eles que nos dão conselhos...  Mas sempre digo que mãe que é mãe nunca vai parar de “aconselhar” seus rebentos, tenham eles a idade que tiverem.   

Esse é o tema do livro “Conselhos para filhos de todas as idades” (São Paulo: Fontenele, 2025), dirigido a filhos, filhas, pais e mães jovens ou mais velhos. É o primeiro livro de uma querida aluna e amiga, a promotora Marina Dehon de Lima. Além dos vários adjetivos que a identificam (sorridente, atenciosa, alegre, entusiasmada, ética e propositiva), Marina acrescentou outra qualificação ao seu nome: escritora. 
 

Mãe presente e participativa, profissional atuante e empenhada, ela sempre priorizou os filhos, mas, como poucas, conseguiu, equilibrar a família e a carreira profissional, sobretudo por contar com uma boa rede de apoio. Agora, ela concretizou algo que, há tempos, já estava pronto em seus sonhos e no coração: dar conselhos! Como ela mesma diz, “conselhos são uma forma de abraçar”. Gentil ao me pedir para fazer a preparação/revisão do livro, suas palavras muito me comoveram, mas alguns alunos tendem a ser exagerados e generosos com seus professores! Foi esse o caso, tenho certeza, mas mesmo assim, fiquei lisonjeada e agradecida. 

O lançamento foi ontem, 05 de junho de 2025, às 19 horas, na Biblioteca Pública Municipal de Varginha, evento que teve a firme condução da produtiva bibliotecária Eliana Costa. Independentemente de qualquer viés religioso, o livro será útil para todos nós, porque, embora nem todos sejam pais, todos são filhos de alguém.  
Então, vida longa à nova escritora e ainda aos filhos, pais e todos que dão, pedem e seguem bons conselhos.  

 

Referências 

Instagram da autora: @maridehonautora 

https://www.instagram.com/maridehon.autora/profilecard/?igsh=MWRkMjZ3dTZudDcyYQ==

https://www.amazon.com.br/dp/6558717379