terça-feira, 30 de junho de 2015

Paisagem Construída: Santa Calçada...

Em vários lugares, no mundo todo, mais pessoas circulando a pé, mais turistas, mais serviços, patrimônio cultural e espaços públicos bem cuidados vêm inspirando a transformação das ruas tradicionais dos centros urbanos em áreas exclusivas para pedestres. E, é claro, todo mundo admira aquelas belas áreas de calçadas, calçadões e calçadinhas, com equipamentos urbanos lindamente projetados - lixeiras, bancos superconfortáveis e bem desenhados, iluminação pública de primeira, piso regular, árvores bem tratadas, etc. Isso qualifica os usos cotidianos do local, cria espaços agradáveis para a circulação e permanência das pessoas e traz maior vitalidade à área. Mas é bom lembrar que isso não é a rotina, nem lá nem cá. Claro, isso vem mudando, mas muitos locais, sobretudo em áreas não tão turísticas, apresentam calçadas que deixam muito a desejar... 
 
O pedestre, o cidadão e os moradores merecem mais. Afinal, a lei garante, a todos, o direito constitucional de ir e vir por calçadas seguras. Na teoria, a faixa por onde o pedestre caminha (não a destinada à arborização e aos equipamentos urbanos) deve oferecer ampla acessibilidade, ser segura, nivelada e contínua sem obstruções de qualquer natureza e pavimentada com material resistente, antiderrapante, de fácil manutenção e, de preferência, drenante, para uma melhor permeabilidade e drenagem do solo. 
Quando bem executadas, com largura adequada, sem os terríveis degraus (que, por vezes, avançam na faixa de rolamento dos carros), desníveis ou obstáculos, as calçadas devolvem a cidade aos pedestres. Tornam-se áreas de convivência, salas de estar das cidades. As pessoas têm mais segurança e se deslocam sem problemas, caminham mais e melhor, melhoram sua saúde e o bom humor, conversam mais com outros, mães saem confiantes com seus carrinhos de bebês, idosos caminham sem sustos e temores. Isso aumenta o uso do espaço público e quanto mais gente nas ruas mais segura a cidade fica. É o que admiramos e buscamos.
                                                 
Bom, em princípio, quaisquer calçadas deveriam permitir uma caminhada segura. Parece óbvio, não? Infelizmente, não é o que se vê por aí, seja nas cidades pequenas cidades seja nas grandes capitais. Há bairros e bairros, vizinhanças e vizinhanças. Não me perguntem o motivo. Só relato o que meus olhos de urbanista veem nas minhas andanças (e olhem que só selecionei poucas fotos). Hoje em dia, quilômetros e quilômetros de calçadas, são verdadeiras pistas de obstáculos, obrigando o pedestre a caminhar inclinado nas calçadas,  quase escorregando na direção da rua e, o tempo todo, desviando dos "n" objetos estranhos espetados aqui e ali, ou a andar pela via pública, correndo o risco de ser atropelado e ainda atrapalhar o próprio fluxo de veículos.    

As causas? Variadas e repetidas: largura ridícula (isso é o que mais se vê, sobretudo em cidades menores e mais antigas), calçadas irregulares com alturas variadas, obstáculos como buracos, piso rebaixado e semidestruído por raízes de árvores, obstrução do percurso por postes, pontos de ônibus, placas de propaganda, lixeiras, materiais de construção, pisos escorregadios, bueiros sem tampa, degraus e desníveis de todas as cores e tamanhos que complicam a vida do usuário etc. 
 
E quanto à manutenção e execução de reparos?  Bom, quando se trata de vias principais, ou áreas diante de bens municipais, não há grandes problemas. Bem ou mal, sabe-se quem é o responsável - as concessionárias de serviços públicos ou a prefeitura. O problema surge quando as calçadas em questão ficam nos bairros, em lotes particulares vazios ou edificados. Aí é um 'salve-se quem puder'. A cidade e as calçadas ficam muito, mas muito feias, além de perigosas! E olhem que estou falando só de calçadas, questões como a fiação aérea e a arborização urbana ficam para outra oportunidade.                                
QUEM É O RESPONSÁVEL?
De modo geral, no Brasil, as calçadas, pavimentos e manutenção não são padronizados. Quer dizer, cada morador é responsável pelos cuidados com a calçada em frente ao seu imóvel. Mas, nem sempre: em outros casos, o poder público é responsável pelas calçadas ou esse dever é compartilhado, mas, e geral, a maioria das cidades passa a responsabilidade aos proprietários dos lotes adjacentes.    
 
Em outros lugares é diferente. Em Nova York, por exemplo, os proprietários dos lotes são responsáveis por instalar, reparar e manter a calçada limpa. O poder público fiscaliza e notifica os responsáveis e, caso o conserto não seja realizado, a cidade pode resolver o problema e enviar a conta ao proprietário. 
Desde 2007, Los Angeles deveria realizar os reparos nas calçadas, mas hoje a maioria deles fica por conta dos moradores. Washington D.C. se responsabiliza pela manutenção das calçadas, mas diz que reparos permanentes dependem de recursos. Londres se ocupa de 1.500 quilômetros de calçadas por ano, investindo mais de um milhão de libras, mas também avisa que reparos permanentes podem demorar até quatro anos. Em outras cidades, a responsabilidade é compartilhada, a depender de quem causou o estrago nas calçadas. Há também aqueles que acreditam que essa responsabilidade deveria ser do poder público municipal, argumentando que a calçada é extensão da via pública. 
 
O fato é que calçadas seguras e transitáveis não deveriam ser exceção, mas a regra absoluta. Talvez, fosse necessária mais padronização para se conseguir calçadas bem cuidadas, dentro de um projeto urbano abrangente, seguindo diretrizes básicas e de bom senso, como a pavimentação com placas de concreto [facilmente removidas e repostas em caso de intervenções nas instalações, sem danificar o piso], materiais sustentáveis e, logo, economia de custos. Cria-se, assim, um espaço urbano integrado pelo piso, e essa visão conjunta é o que dá a sensação agradável de amplidão, conforto e continuidade que sentimos em calçadas e áreas de pedestres bem projetadas e acessíveis.  

No Brasil, muitas prefeituras têm disponibilizado, em seus sites, guias e cartilhas que orientam o morador sobre a importância de um passeio acessível, bem feito e bem cuidado. Alguns exemplos são as prefeituras de São Paulo, São José dos Campos, Vitória, Goiânia, Rio, Belo Horizonte e Porto Alegre. São Paulo, entre outras coisas, desenvolve um programa de requalificação dos calçadões, definindo características como piso drenante de alta resistência e fácil manutenção; mobiliário urbano de qualidade; boa iluminação; acessibilidade e prioridade para transporte de pedestres, etc.  Áreas estratégicas como a Avenida Paulista, Itaim Bibi e jardins, e Rua Oscar Freire (esta última, com projeto do arquiteto Héctor Vigliecca), além de outras áreas comerciais da cidade já têm calçadas padronizadas em termos de largura, materiais, piso e mobiliário urbano. 
No entanto, a questão também é séria nos novos bairros e loteamentos que propõem uma calçada ridícula, quando o fazem. Há que se pensar também no pedestre, e não apenas nas faixas de rolamento dos carros. Afinal, quem dirige os carros são pedestres que estão atrás do volante e, para terem acesso aos carros, é imperativo utilizar algum trecho de calçadas. 

São José dos Campos inovou nesse quesito lançando mão de 15 agentes comunitários com idades entre 61 e 70 anos, que mostravam as dificuldades de locomoção causadas por uma calçada mal construída. Conseguiu-se a conscientização  e o programa teve sucesso total! No Rio, o calçadão de Copacabana com a padronização do uso do mosaico português (ainda que sua manutenção seja cara e trabalhosa)  é reconhecido no mundo todo. Não há como negar que esses locais assim são agradáveis, confortáveis e convidam o pedestre a caminhar. 
 
Mas, qualquer que seja o responsável, poder público, proprietário ou inquilino do lote em questão, mais do que cumprir a lei, construir uma calçada segura e confortável é dever de todos e um exercício de cidadania. Todos têm o direito de circular em segurança e livremente pelas calçadas. Todos sentem prazer em caminhar em um lugar assim. Assim, o benefício será para a sociedade e para a cidade, como um todo. 
Isso (também) é yoga na prática, já que a ética do yoga aplica-se a tudo, sem exceção. É dever de cada um fazer o melhor que puder para não atrapalhar a vida do outro. Isso também é asteya, o terceiro yama do código de ética do yoga de Patanjali: não roubar do outro...o direito, no caso, a uma caminhada tranquila e sem riscos nas calçadas do mundo. 

Referências e Imagens:

Goiânia: http://www.goiania.go.gov.br/portal/home.asp?s=1&tt=con&cd=4349  

sábado, 27 de junho de 2015

Reflexão: Mensagem do yoga

 O yoga tem uma mensagem completa para a humanidade. Tem uma mensagem para o corpo, uma para a mente e uma para a alma humana.  
- Swami Kuvalaynanda* (1883-1966) 

*Após terminar seus estudos e influenciado por Sri Aurobindo, Swami Kuvalayananda, nascido Jagannatha Ganesa Gune, viajou por toda a Índia e ao perceber a importância da educação, tornou-se educador. 
Em 1924, fundou o pioneiro Kaivalyadhama Yoga Institute, perto de Puna e Mumbai (antiga Bombaim), para realização de pesquisas científicas sobre os efeitos terapêuticos das práticas de yoga, que curavam o corpo e o espírito. Mahatma Gandhi, Pandit Jawaharlal Nehru e Indira Gandhi, entre outros, foram buscar e receberam tratamento sob sua supervisão.
Na mesma época, começou a publicar a revista Yoga-Mimansa (mimansa, termo sânscrito que significa pesquisa, investigação), apresentando os resultados de seu trabalho sobre as técnicas do yoga - asanas, bandhas, pranayamas, etc - e sua ação no corpo e na mente. Seu objetivo era difundir e repassar adiante a autêntica tradição, que ele mesmo havia recebido de seu mestre, Paramahamsa Madhavadas Maharaj (1798-1921). 
Suas pesquisas foram reconhecidas, atualizaram a terapia do yoga à luz de pesquisas científicas e despertaram interesse no ocidente. Assim, o Instituto recebeu pesquisadores de várias universidades dos Estados Unidos, como Yale, Colúmbia, Califórnia e Michigan. As pesquisas e colaborações continuam até hoje. Em 1950 fundou o Yoga College, com o objetivo de formar professores, vindos do mundo todo, muitos do Brasil. 
Nossa gratidão a ele, como a tantos outros mestres dessa ciência maravilhosa.  
 
Swami Kyvalayananda. 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Memória, Vida & Literatura: Luta Silenciosa

             O universo masculino é o das certezas, do concreto e do objetivo.
O universo feminino, o das incertezas, do abstrato, do subjetivo.
Quando mulheres se encontram falam de suas emoções.
Compartilhar dúvidas é um aspecto de maturidade...
É positivo, saudável, faz crescer...”
- Regina Di Marco, mulher, filha, irmã, mãe e jornalista.   

Anas, Antonias, Carmens, Márcias, Marias, Reginas, Suelis... 
Muitos nomes, os mesmos papéis. Mulheres que, há cerca de 20 anos, foram convidadas a fazer um relato de suas dificuldades e desafios para conciliar casamento, maternidade e vida profissional. O resultado foi o livro Luta Silenciosa, de Regina Di Marco, publicado pela Editora Saber (1995), reunindo mais de 100 depoimentos, narrando dores, alegrias, culpa, alívio, desespero, depressão, prazer, uma miríade de sentimentos entrecruzados e contraditórios
Fiz parte dessas dezenas de personagens reais que compartilharam com a autora aqueles momentos de suas vidas, os desafios e formas de enfrentamento daquela fase difícil e bem conhecida por todas as mulheres-mães-profissionais.  
Silenciosamente, a jornalista Regina Di Marco, sentindo na pele as dificuldades e tropeços daquele período pós-maternidade, quis indagar se outras mulheres na mesma situação lidavam com sentimentos similares. Após noites mal dormidas, lágrimas, alegrias, risos e muito trabalho, nascia um livro, uma luz, uma descoberta feliz, uma retomada confiante de si mesmo e de suas possibilidades. Um salto corajoso e admirável de uma jovem leoa que mudou para enfrentar a mudança de papeis.  
A questão, há tempos vivenciada e sentida por mulheres, no mundo todo, vem ganhando destaque nos últimos anos com grande número de livros, pesquisas, debates, relatos de psicólogos, grupos de estudo, livros de autoajuda, seminários sobre a questão do feminino e um sem número de espaços virtuais dedicados à mulher-mãe-profissional. Felizmente hoje, a tecnologia permite levantar, analisar e divulgar dados com mais rapidez, precisão e alcance, mas a tríplice situação da mulher, seus impasses, dúvidas e sentimentos ainda persistem. 
Mas, no final das contas, somos mulheres, somos muitas, somos múltiplas e, por isso mesmo, vencedoras.   
 
Capa do livro Luta Silenciosa    

 
A autora.  
Fonte: www.rmpress.com.br     

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Paisagem Construída: Bikes vs Cars

Ciclistas aguardando o verde. [Shutterstock] https://www.euractiv.com/section/health

Bikes vs. Cars  é o novo filme do diretor sueco Frendik Gertten mostrando que, no mundo todo, as pessoas usam a bicicleta como uma ferramenta para fazer a diferença, diminuir o estresse cotidiano e transformar as cidades em locais mais humanos, agradáveis e sustentáveis.  
O filme estreou no Brasil, em 13 de junho, com exibição gratuita no Parque Ibirapuera, em São Paulo. No dia também houve programação cultural ligada à cultura da bicicleta. A seguir, o documentário segue para outras nove cidades brasileiras. 
São Paulo foi a primeira a receber o filme pelo fato de o documentário ter sido gravado entre 2012 e 2014 e registrado a eleição do prefeito Fernando Haddad (PT) e o início das transformações da capital, no tocante ao incentivo da cultura ciclística e à construção de ciclovias. 
Outras cidades retratadas são: Los Angeles (EUA), Toronto (Canadá) e Copenhague (Dinamarca), referência internacional em mobilidade por bicicleta. Raquel Rolnik, arquiteta e urbanista brasileira, e a jornalista e repórter do Vá de Bike Aline Cavalcante também dão seus depoimentos.  



(...) visitei Malmö, Estocolmo e Lund, na Suécia, e Copenhague, na Dinamarca. São cidades onde a cultura da bicicleta é uma realidade, onde a infraestrutura respeita a dinâmica de um veículo humano. Nesses lugares, a lógica do pedestre e do ciclista é impressionante. Ruas seguras, ótimas calçadas, transporte público eficiente etc. Pedalei bastante e voltei com a sensação de que ainda temos um caminho longo e árduo por aqui.  
- Aline Cavalcante.  
 Ver matéria completa no Vá de Bike:

Referências:
Bikes vs Cars: bikes-vs-cars.com/thefilm