terça-feira, 29 de março de 2016

Arte & Cultura | Músicas do coração: Vivo per Lei


Andrea Bocelli. Foto: Divulgação.
Vivo per Lei é o nome da canção composta por Andrea Bocelli (1958), grande compositor e tenor italiano. Vivo por ela. Ela, quem? Maria, Joana, Antonia, Vera, Sílvia, Teresa?
Não, nada disso. Lei, ela, é a música, pura e simples; uma das inúmeras formas que, desde sempre, o homem encontrou para protestar, se declarar, agradecer, orar e se emocionar. Bocelli já me fez chorar com várias outras canções, mas Vivo per Lei me faz, literalmente, soluçar.
No vídeo abaixo, Andrea Bocelli e Heather Headley e suas vozes privilegiadas, no Teatro del Silenzio, belíssimo show realizado na Toscana, Itália em 2007.  https://www.youtube.com/watch?v=ciawICBvQoE

Vivo per Lei [Andrea Bocelli]
Com Andrea Bocelli e Heather Headley

Vivo per lei da quando sai
La prima volta l'ho incontrata
Non mi ricordo come ma
Mi è entrata dentro e c'è restata

Vivo per lei perché mi fa
Vibrare forte l'anima
Vivo per lei e non è un peso

Vivo per lei anch'io lo sai
E tu non esserne geloso
Lei è di tutti quelli che
Hanno un bisogno sempre acceso
Come uno stereo in camera
Di chi è da solo e adesso sa
Che è anche per lui, per questo
Io vivo per lei

È una musa che ci invita
A sfiorarla con le dita
Atraverso un pianoforte
La morte è lontana
Io vivo per lei

Vivo per lei che spesso sa
Essere dolce e sensuale
A volte picchia in testa una
È un pugno che non fa mai male

Vivo per lei lo so mi fa
Girare di città in città
Soffrire un po' ma almeno io vivo
È un dolore quando parte

Vivo per lei dentro gli hotels
Con piacere estremo cresce

Vivo per lei nel vortice
Attraverso la mia voce
Si espande e amore produce

Vivo per lei nient'altro ho
E quanti altri incontrerò
Che come me hanno scritto in viso

Io vivo per lei
Io vivo per lei
Sopra un palco o contro ad un muro

Vivo per lei al limite
Anche in un domani duro

Vivo per lei al margine
Ogni giorno una conquista
La protagonista sarà sempre lei

Vivo per lei perché oramai
Io non ho altra via d'uscita
Perché la musica lo sai
Da vero non l'ho mai tradita

Vivo per lei perché mi da
Pausa e note in libertà
Ci fosse un'altra vita la vivo
La vivo per lei

Vivo per lei la musica
Io vivo per lei
Vivo per lei è unica
Io vivo per lei / Io vivo per lei / Io vivo per lei...

domingo, 27 de março de 2016

Vida & Yoga | Yoga e transformação real


Ciência antiga, plena de sabedoria e harmonia, o yoga me abriu caminhos nunca imaginados e alguns personagens foram fundamentais para isso. Como já mencionei aqui no blog o professor Hermógenes foi uma dessas pessoas.  Ver Ao mestre Hermógenes, com carinho. 
Prof. Hermógenes sempre alertava seus leitores contra a normose, doença do homem que vive de acordo com os padrões de uma sociedade desequilibrada. Isto não lhe soa extremamente familiar, nos dias que correm? 
Pois bem. Hermógenes agia de acordo com o que falava e pensava. Coerência entre pensamento, discurso e ação na prática do bem, do amor, da tolerância, da não–violência, princípio primeiro do yoga. Era o que mais me encantava nele - sua coerência em um trabalho constante em prol do amor, através dos princípios básicos da ética do yoga: a série de yama e niyama. 
Praticava, propunha e fazia yoga, não para se tornar melhor que os outros, mas para se fazer “melhor para os outros”. Vivia o que pregava, através da dificílima proposição de Sathya Sai Baba, "entrego, confio, aceito e agradeço” e buscava praticar o apelo feito há 2000 anos “sede logo perfeitos”, daí o título daquele primeiro livro que escreveu, na década de 1940: Autoperfeição com hatha yoga.
 
Também recebi sua influência indireta, em outra fase da vida, quando eu participava de um trabalho voluntário ligado a meninos infratores/carentes, no âmbito do Projeto YAM, coordenado pelo homeopata e professor de yoga Cesar Devesa, de São Paulo, a quem também sou grata por tê-lo conhecido e pela oportunidade de trabalho e aprendizado. 
Durante uma das aulas dentro do projeto YAM, junto com os alunos, assistimos a um filme emocionante, denominado Do Lodo ao Lótus. O filme baseava-se em fatos reais e mostrava a história de Luis Henrique Gusson Coelho, preso em Natal - RN, por formação de quadrilha, estelionato, sequestro e assassinato. Condenado a 15 anos de prisão, Gusson começou sua transformação a partir do contato com o yoga, através do livro Autoperfeição com Hatha Yoga. O próprio Hermógenes chegou a visitá-lo para uma conversa. Profundamente modificado, o presidiário começou a dar aulas aos demais companheiros de infortúnio mostrando e compartilhando o poder de transformação do yoga.  
Veja o vídeo e constate o poder de transformação dessa ciência milenar, quando praticada com seriedade e compromisso.  

Vídeo: Do lodo ao lótus, parte 1. O caso Gusson.

  Vídeo: Do Lodo ao Lotus, parte 2.  O caso Gusson.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Arte & Cultura | Instalação de Weiwei pelos refugiados


Milhares de coletes na instalação do artista chinês Ai Weiwei. Berlim
Foto: Oliver Lang /Cortesia konzerthaus Berlim.
Coletes salva-vidas são o mote da instalação-denúncia do artista contemporâneo, cineasta, arquiteto e ativista chinês Ai Weiwei (1957), que reuniu 14.000 desses coletes da ilha de Lesbos, na Grécia, onde milhares de refugiados aportaram após a dura travessia por mar. Objetivando chamar a atenção para essa crise humanitária, representou, através dos salva-vidas, as incontáveis vidas alteradas. Seu instagram também traz centenas de fotos e vídeos dos refugiados, em busca de asilo. 

Instalação de Ai Weiwei em sala de concertos alemã.
 Foto: Oliver Lang / Cortesia konzerthaus Berlim.
O artista envolveu os seis pilares da entrada principal da sala de concertos Konzerthaus, em Berlim, com os coletes de cor laranja. Cada um foi amarrado ao outro e depois fixado nas colunas; cada um representa a vida de alguém, homem, mulher ou criança, cuja chegada em Lesbos é apenas o começo de uma nova e difícil fase. A instalação foi realizada em fevereiro 2015.   
Ai foi também consultor artístico do escritório suíço dos arquitetos Herzog & De Meuron, para o projeto do Ninho de Pássaro, o estádio de Pequim para os Jogos Olímpicos de 2008. 
https://www.artsy.net/artist/ai-weiwei  

segunda-feira, 21 de março de 2016

Línguas, Tradução & Poesia | Poetizando com paquidermes...


No dia da poesia, envio um lindo poema a vocês, de um lindo poeta...
Volta e meia, eu me pego elucubrando sobre a vida, a poesia e a forma de olhar. Já cheguei à conclusão (triste, eu acho) de que a gente só vê o que quer ver. Basta ver o que a maioria das pessoas anda vendo. Por mais que se mostre, que se aponte, que se descreva o que nós vemos, parece que há algum filtro ou certa cor na lente dos óculos daquele que olha, mas nem sempre vê. Ou vê de acordo com o filtro em suas lentes...a pessoa olha mas não vê. Não é cego, mas não enxerga....  Ou enxerga, mas não é capaz de ver. Ver o outro....
Triste cegueira que nos assola; a cegueira branca de Saramago, não da mente, mas do coração...

Isso vale para tudo: da culinária à arquitetura; da poesia ao romance; do sonho à realidade; da célula ao universo; do chão de nossa casa ao país. Quer ver só? Quer coisa mais esquisita, a princípio, para se fazer uma poesia do que um paquiderme? Isso mesmo, um bom paquiderme, daqueles: um elefante.
- Como assim, poesia com elefante? Você quer dizer elegante, pois não?
- Não....na, na, ni, na, não. É elefante, mesmo.
- Não acredito! 

Pois é, mas Drummond conseguiu fazer um lindo poema sobre o tal paquiderme e um elefante vira protagonista de um poema, no olhar dos que têm o dom, dos que ainda conseguem ver por trás da mera aparência, olham e veem 'através de'.

No livro A Rosa do Povo, "O Elefante" se destaca. O elefante e o poeta buscam...mas não encontram. Do que precisavam? O que buscavam? 
Como todos, buscavam o Amor, elemento articulador e agregador, caminho e verdade única, inexorável e fundamental. Nada, nada encontram. Voltam cansados da busca, mas no dia seguinte, sem desanimar, poeta e elefante recomeçam.


Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) dispensa apresentações. Nasceu em Minas e saiu da vida no Rio de Janeiro, mas começou a deixar de viver a partir da morte de sua filha Maria Julieta, ocorrida pouco tempo antes. O poeta e cronista de Itabira foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, então Ministro da Cultura, e depois funcionário do SPHAN - Serviço Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (de 1945-1962), convivendo com figuras do porte de Mário de Andrade, Lúcio Costa, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Manuel Bandeira, Luiz Saia,  Rodrigo Melo Franco de Andrade. Drummond nos deixou alguns dos mais belos poemas e escritos do século 20. 
Um verdadeiro monstro, com aquele seu olhar pequeno, atrás dos indefectíveis óculos, um olhar agudo que perfurava e que via além. 

O Elefante (1983)
 [Carlos Drummond de Andrade em A Rosa do Povo]

Fabrico um elefante de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira, tirado a velhos móveis, talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão, de paina, de doçura.
A cola vai fixar suas orelhas pensas.
A tromba se enovela; é a parte mais feliz de sua arquitetura. 


Mas há também as presas,
dessa matéria pura que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos, onde se deposita
a parte do elefante mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.


Eis o meu pobre elefante pronto para sair 
à procura de amigos num mundo enfastiado, 
que já não crê em bichos e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente  e frágil, que se abana
e move lentamente a pele costurada
onde há flores de pano e nuvens, alusões
a um mundo mais poético 

onde o amor reagrupa as formas naturais.

Vai o meu elefante pela rua povoada,
mas não o querem ver nem mesmo para rir
da cauda que ameaça deixá-lo ir sozinho.


  É todo graça, embora  as pernas não ajudem 
e seu ventre balofo se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância sua mínima vida,
e não há cidade alma que se disponha
a recolher em si, desse corpo sensível
a fugitiva imagem,   o passo desastrado
mas faminto e tocante.
 


Mas faminto de seres e situações patéticas,
de encontros ao luar no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam e brilham através
dos troncos mais espessos.
Esse passo que vai sem esmagar as plantas
no campo de batalha, à procura de sítios,
segredos, episódios não contados em livro,
de que apenas o vento, as folhas, a formiga
reconhecem o talhe, mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.


E já tarde da noite volta meu elefante, mas volta fatigado, 
as patas vacilantes  se desmancham no pó.
Ele não encontrou o de que carecia,
o de que carecemos, 

eu e meu elefante, em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa, caiu-lhe o vasto engenho como simples papel.
A cola se dissolve e todo o seu conteúdo 

de perdão, de carícia,  de pluma, de algodão,
 jorra sobre o tapete, qual mito desmontado.
Amanhã recomeço. 

Referências: 
https://osuspirodopoeta.wordpress.com/academico/critica-dialetica-em-o-elefante-de-drummond/