segunda-feira, 7 de março de 2016

Memória & Vida | A mulher, segundo Saramago




Desde sempre, compositores, poetas, artistas, escultores tecem loas e cultuam a mulher. Tentam decifrá-la, ampará-la, homenageá-la, poetizá-la em prosa, poemas, canções, pinturas, quadrinhos, esculturas. Tentam captar seus sentimentos, momentos de dor e de alegria, de encantamento, de entrega e de luta. Mulheres cantadas por Chico, Vinícius, Jobim, Quintana, Neruda, Drummond, Francis, Degas, Picasso, Gauguin, Quino e tantos outros. Por isso mesmo, são quase nossas conhecidas, podemos imaginá-las de carne e osso, sorrindo, chorando, lutando, caminhando ou amando: Genis, Lígias, Ritas, Amélias, Anas, Joanas, Matildes, Mafaldas...

Na imagem, Mafalda, a famosa personagem feminina criada pelo cartunista argentino Quino (Joaquín Salvador Lavado). Sempre preocupada com a Política, sempre lutando por um mundo mais justo, humano e solidário. Lamentava a hipocrisia e ficava perplexa com a ignorância, o egoísmo e a cegueira daqueles que guiavam seu pensamento em função do consumismo e da TV.  
No entanto, nesse Dia Internacional da Mulher de 2016, fugindo das habituais listas de mulheres que se destacam em suas áreas (que já fiz em 2015), poderia escolher dez, vinte ou mil, mas prefiro escolher outra forma de representação. Poesia e prosa. Escolho aquela vista pelos olhos de Pablo Neruda (1904-1973) e a mulher, como ser diferenciado, vista pelos olhos de José Saramago.    

José Saramago
Os escritos do escritor, jornalista e tradutor português, José de Sousa Saramago (1922-2010) me marcaram desde que o li pela primeira vez, com aquela forma própria e inusitada de narração, sem pontuação convencional, como se falasse consigo mesmo, num fluxo ininterrupto de ideias. Sua escrita me cativou e me surpreendeu. Nunca mais parei de lê-lo. 
Ganhador de vários prêmios, entre eles o Nobel de Literatura (1998), Saramago nasceu em Azinhaga, Portugal, e terminou sua vida mais perto da África, na ilha espanhola de Lanzarote, arquipélago das Canárias, em 2010. Em inúmeras entrevistas, dizia não acreditar em Deus. Mas enquanto o autor se proclamava ateu, as mulheres de seus romances mostravam o contrário. Personagens que, apesar dos pesares, apesar das mazelas, do caos e da perplexidade ao seu redor - e talvez em si mesmas -, lutavam decididas e buscavam o bem. Personagens corajosas e solidárias que também sentiam medo, mas não se rendiam; lutavam, mas não desistiam; fortes por natureza; ou se faziam fortes, pelas circunstâncias.
Personagens que não eram cegas da razão, viam a insensatez das situações, percebiam o hálito mental sufocante da ignorância e da manipulação, mas enxergavam o outro com o coração, simbolizando o ser humano aguerrido e que não desanima (por vocação ou necessidade), resoluto, acolhedor, solidário e compassivo. Personagens que espalhavam no mundo valores éticos pregados por qualquer religião como solidariedade, compaixão, acolhimento, resiliência, justiça, retidão, coragem, integridade, ou apenas o simples e antiquíssimo “Fazer aos outros aquilo que gostariam para si próprias". Essa a medida em tudo e em todos os tempos.
Sou eternamente grata a Saramago, pelo que me mostrou em suas personagens femininas. Que todas as mulheres se vejam nelas e que possamos ver tantas de nossas mulheres naquelas personagens. 

Pablo Neruda
Termino com o belo poema "Mulheres", de Pablo Neruda, outro nome a quem sou profundamente grata.

Mulheres
[Por Pablo Neruda]

Elas sorriem quando querem gritar.
Elas cantam quando querem chorar.
Elas choram quando estão felizes.
E riem quando estão nervosas. 

Elas brigam por aquilo que acreditam.
Elas levantam-se para injustiça.
Elas não levam "não" como resposta quando
acreditam que existe melhor solução. 

Elas andam sem novos sapatos para
suas crianças poder tê-los.
Elas vão ao médico com uma amiga assustada.
Elas amam incondicionalmente. 

Elas choram quando suas crianças adoecem
e se alegram quando suas crianças ganham prêmios.
Elas ficam contentes quando ouvem sobre
um aniversario ou um novo casamento.

Seus corações quebram quando seus amigos morrem.
Elas lamentam-se com a perda de um membro da família,
contudo são fortes quando elas pensam que não há mais força.
Elas sabem que um abraço e um beijo podem curar um coração quebrado.
O coração de uma mulher é o que faz o mundo girar!
 


Mulheres fazem mais do que dar a vida.
Elas trazem alegria e esperança.
Elas dão compaixão e ideais.
Elas dão apoio moral para sua família e amigos.
Mulheres têm muito a dizer e muito a dar.

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