terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Memória & Paisagem Construída | Ladrilho Hidráulico

Imagem:  https://ensaiosfragmentados.com/2014/02/20/ladrilho-hidraulico/
Releitura, revisitar, retomar, recuperar, resgatar são termos bastante usados atualmente, tanto na vida como na arquitetura. É o que vem acontecendo, há algum tempo, com os ladrilhos hidráulicos. Um claro exemplo dessa retomada das nossas tradições com uma roupagem mais, digamos, moderna. E o melhor é que a tradição vai passando de geração em geração. O ofício não se perde, a técnica e a arte são preservadas e difundidas. A tradição continua viva e ativa!

Lembro-me de apreciar, quando criança, os lindos ladrilhos hidráulicos da minha casa e da casa de minha avó italiana – avó Rosária -  em São Paulo, no piso da nossa cozinha e do terraço pequeno, uma espécie de alpendre. As duas casas eram rebatidas no mesmo lote estreito e comprido, ou seja, meu alpendre dava para o dela. O piso do banheiro era aquele horrível cimentado vermelhão e que trincava aos poucos.... Quanto aos ladrilhos, eu admirava e reproduzia em papel (além de criar novos desenhos) aquela padronagem geométrica - losangos formando uma mandala em duas cores - cor de cimento e cor de vinho.  No caso, duas cores apenas, como era comum para ambientes mais simples. As peças mais elaboradas trabalhavam com mais cores, além de um desenho mais sofisticado. 

Molde metálico antigo (ferro ou bronze).
Mas voltando. Certamente, o ladrilho deve ter sido inspirado nos belíssimos ancestrais bizantinos. Datam do final do século XIX as primeiras referências aos ladrilhos hidráulicos, vendidos como resistentes, de fácil manutenção e instalação, dispensando cozimento e feitos com prensas hidráulicas. 
Pelas mãos dos imigrantes italianos, os ladrilhos chegaram a São Paulo no final do século XIX, início do século XX e foram conquistando mercado. Perderam força na década de 1960 com o surgimento do piso cerâmico industrial, de maior produtividade  e menor custo. Embora muitas fábricas tenham fechado suas portas, algumas permaneceram e ainda produzem os ladrilhos, um a um, de forma totalmente artesanal.
 
Imagem: Boletim Mapa da Obra
Os ingredientes – cimento, pó de pedra, pigmento - são cuidadosamente colocados em moldes metálicos; depois vem a mistura de cimento seco. São prensados, ficam em repouso e, finalmente, submergidos na água. Depois de secarem na sombra, por uns 20 dias, voilá: os belos ladrilhos estão prontos para uso. 

O vídeo abaixo,Ladrilho Hidráulico um piso ligado à memória e ao afeto, do Portal Intermeios da FAU-USP, retrata mostra todo o processo de produção dessa pequena obra de arte, sua presença na arquitetura paulista e de obras restauradas que mantiveram o mesmo padrão. Vários profissionais participam do vídeo, dentre eles o arquiteto Carlos Lemos, querido professor da FAU. Um belíssimo vídeo. 
Ladrilho Hidráulico:FAU-USP

Referências

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