quinta-feira, 13 de abril de 2017

Arte, Cultura & Memória | Polka dots

Yayoi Kusama. Mostra Obsessão Infinita, São Paulo, 2014. Foto: Júlia Di Marco Alves

Mostra 'The Obliterated Room'. Yayoi Kusama. Nova York. Imagem: Divulgação


Sempre gostei de estampas de bolinhas, de preferência pequenas e discretas. Um dia, dando aulas de inglês, me deparei com um livro didático que, de cara, se tornou um dos meus favoritos. Era um livro com trovas infantis musicadas, em ritmo de jazz. Assim a criançada aprendia as estruturas da língua com mais facilidade e brincando, ou melhor, cantando. Uma das músicas mais interessantes era chamada Polka dot pyjamas (Pijama de Bolinhas), que ensinava conjugar verbos no passado simples. E não é que eles aprendiam mesmo? Ainda hoje, alguns alunos comentam de como se lembram daquelas músicas e das respectivas estruturas gramaticais. Elas grudavam e permaneciam. A propósito, o nome do livro era Jazz Chants for Children...
Mostra Obsessão Infinita, de Yayoi Kusama em São Paulo, 2014. Foto: Júlia Di Marco Alves
Tempos depois, em 2014, lembrei-me de novo da tal ‘Polka dots Pyjamas’ ao visitar a exposição da artista japonesa Yayoi Kusama (1929) e sua variada multiplicidade de bolinhas coloridas, no Centro Cultural Tomie Othake, em São Paulo. Sofrendo de esquizofrenia, desde a infância, a própria artista pop relata sempre ter tido visões distorcidas da realidade. Daí, sua marca registrada e motivo recorrente, as bolinhas, ou 'pontos do infinito', como ela diz. Foi através da arte que encontrou uma forma de cura e sobrevivência, tentando mostrar às pessoas seu mundo interior. Segundo palavras da própria Kusama, não fosse a arte, ela já teria se suicidado.
Mostra 'In Infinity'. Foto Kim Hansen/Cortesia Museu de Arte Moderna de Louisiana- Suécia.
 Aos 27 anos, Kusama mudou-se para os Estados Unidos, a conselho da amiga e artista, Georgia O’Keeffe (1887-1986). Naquela época, o Japão ainda se recuperava da guerra e, em Nova York, Kusama acreditava poder exercer sua arte e ter mais reconhecimento. Conviveu com artistas importantes da Art Pop como Andy Warhol e logo passou a integrar a vanguarda do movimento. Seu trabalho mistura colagens, pinturas, esculturas, performances e instalações. Ativa na defesa das minorias e de movimentos a favor da paz, sempre se mostrou uma artista e uma mulher à frente do seu tempo, feminista, moderna e revolucionária por natureza.   
Por problemas de saúde, retornou ao Japão em 1973 e, mais tarde, em 1977, voluntariamente, se internou em uma instituição psiquiátrica, onde vive até hoje apesar de ainda usar seu apartamento, próximo ao local, como ateliê.
Mostra Obsessão Infinita, de Yayoi Kusama em São Paulo, 2014. Foto: Júlia Di Marco Alves
Continua ativa e fazendo exposições até hoje, com trabalhos espalhados pelo mundo. No Brasil, o Centro Cultural Inhotim, em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte, tem a obra “Narcissus garden Inhotim” (2009): dezenas de esferas de aço inox movimentando-se, pela ação dos ventos, sobre um espelho d'água. Esta obra é uma versão da intervenção de Kusama na Bienal de Veneza de 1966 quando, clandestinamente, espalhou 1500 esferas espelhadas, vendendo-as por  2 dólares cada. Entre as bolas, havia placas com os dizeres “Seu narcisismo à venda”. Depois desse fato, foi retirada da Bienal e só voltaria lá 27 anos depois, dessa vez, como convidada.
Narcissus Garden (2009), obra de Yayoi Kusama em Inhotim. Foto: Divulgação (Inhotim).
O vídeo abaixo faz parte do projeto Críticas Infantis e mostra a opinião de várias crianças sobre algumas instalações e obras de arte contemporânea. O episódio de estreia retrata os pequenos na Galeria David Zwirner, justamente com a exposição Give me Love de Yayoi Kusama. (Mais informações aqui). 
       Kids Critique: Yayoi Kusama's 'Give Me Love'.Publicado em 12 de jun de 2015.

Referências: 
http://www.inhotim.org.br/blog/tag/yayoi-kusama-2/ 
http://www.designboom.com/tag/yayoi-kusama/   
http://www.curbed.com/2015/10/12/9912246/yayoi-kusama-infinity 
http://bocadolobo.com/blog/art/yayoi-kusama-is-coloring-new-york/

Nenhum comentário:

Postar um comentário