quinta-feira, 6 de abril de 2017

Línguas & Tradução | Transmutação ou Adaptação

Imagem: keep.pt

Mais do que uma profissão apaixonante, a tradução é um ofício delicado e técnico, um processo de constante aprimoramento profissional e uma forma de divulgar outras culturas. O tradutor é aquele que reescreve,  em um certo idioma, um texto escrito originalmente em língua estrangeira. Assim, permite o acesso à leitura daquela obra, por um número muito maior de pessoas. É bom que se diga que não se trata de traduzir palavras ou frases soltas, mas de traduzir uma cultura para outra, no mais das vezes, muito diferentes entre si.
 
Sim, cada tipo de tradução tem sua especificidade, mas tradução é sempre tradução e o que deve ser constante em qualquer caso é que o resultado final - a obra traduzida - faça sentido também na língua de chegada. Assim, seja nas traduções técnicas ou nas literárias em prosa, poesia ou literatura infantil, por exemplo, detalhes, características, registros, sonoridade do texto, tudo deve ser preservado. Evidente que para fazer sentido, muitas vezes, algumas mudanças são necessárias. É aí que entra aquilo que  Umberto Eco chamava de adaptação ou transmutação. Em qualquer caso, talento, conhecimento das línguas, bom senso e sensibilidade são sempre indispensáveis ao profissional da tradução.


Exemplo de traduções e adaptações temos vários em se tratando de filmes, poesia ou literatura, com resultados muito ricos e criativos, como os sempre citados O Senhor dos Anéis, traduzido por Lenita Esteves; a série de Harry Potter, traduzida por Lia Wyler, os poemas de Shakespeare, traduzidos por Ivo Barroso, as obras russas por Boris Schnaiderman, as traduções de Mário Quintana, as dos irmãos Campos, as de Paulo Rónai, de Caetano Galindo entre tantos e tantos nomes e obras. 

No caso de literatura infantil, cito The Alphazeds, de Shirley e Milton Glaser (ilustrações). Sim, é o mesmo Glaser que criou o famoso "I<3 NY". A tradução/ adaptação  para o português coube à tradutora Telma Franco Diniz (que também traduz poemas), com o sugestivo título O Dicionário dos Alfazetes”. Veja aqui um dos primeiros textos do Blog Anita Plural, a respeito desse trabalho. Graças a ela, a população de língua portuguesa teve mais acesso àquela bela obra. 
Imagem:blog.sempihost.com.br
 
Alcançar esse resultado pode parecer fácil. Mas não é. Não basta ter diploma de Letras para se traduzir. Não basta saber um pouco de cada língua. Não basta ter morado fora por algum tempo. Não basta ser amigo do editor. Não basta adorar ler e escrever. Como trabalho especializado, demorado e delicado que é, a tradução exige técnica, amplo conhecimento das línguas envolvidas, dedicação, muita atenção, mente curiosa e investigativa, bom senso e ótima visão para ficar horas diante da tela do computador.  Além disso, no caso de uma adaptação é crucial aliar as qualidades acima a uma boa dose de sensibilidade, criatividade e ousadia, qualidades que sobram nos nossos tradutores.
   
No caso da tradução de poesia, com toda sua singularidade, além das exigências acima, o ofício exige ainda conhecimento de métrica, esquema de rimas, efeito sonoro e, acredito eu, muita coragem. Tenho o maior respeito pelos tradutores/poetas que conseguem reunir tudo isso e obter excelentes resultados, mas, admito... não é para mim. O elogio também vale para o sentido inverso, as chamadas versões de obras-primas brasileiras para outros idiomas por excelentes profissionais. Mas isto é assunto para outra publicação. 

De qualquer forma, em um trabalho sério de tradução, é crucial aliar todas as qualidades mencionadas. São profissionais que merecem visibilidade, respeito e consideração por divulgarem culturas e ideias, ainda que eventuais falhas, infelizmente, possam surgir na transposição de um universo cultural para outro. Então, pense bem, quanto você estiver lendo uma obra de ficção, um poema ou assistindo a um filme. Há mais do que o autor, por trás daquela obra...

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