sábado, 16 de setembro de 2023

Ecos Urbanos | Como criamos as cidades

Calçadas? São Paulo.Foto Anita Di Marco
Lixo. Varginha, MG. Foto: Anita Di Marco
Se caminharmos pelas ruas das nossas cidades e observarmos o entorno, com atenção, vamos perceber a qualidade (ou não) do todo – do espaço público construído ou não; das ruas arborizadas ou não; das calçadas  (ou falta delas); da presença ou ausência de parques, áreas verdes e outras amenidades e gentilezas para o morador e o pedestre; da confusão de fios e cabos elétricos aéreos; de imóveis extrapolando os limites dos lotes; de placas comerciais enormes obstruindo a paisagem urbana; da presença ou não de placas de sinalização, iluminação pública e do mobiliário urbano como lixeiras e bancos; e do lixo. Ah, o lixo.... Algo tão simples como colocar o lixo no lixo e material reciclável no lugar adequado e não jogado no meio da rua... Isso me parece tão natural, tão óbvio. Será? É inimaginável ver, ainda hoje, o lixo nas ruas, isso sem falar de suas consequências, quando chove. Triste retrato da nossa sociedade.


Precisa desenhar?
Precisa desenhar?
Não adiante posar de bacana, se nossas cidades estão como estão: lixo aqui, ali e acolá; bueiros entupidos; enchentes recorrentes; ruas que mais parecem uma sucessão de crateras; calçadas inexistentes, cheias de degraus ou destruídas; casas que não deveriam jamais ser assim chamadas, além do número assustador de pessoas em situação de rua; construções apropriando-se do espaço público; transporte ineficiente e falta de mobilidade urbana; desrespeito às placas de sinalização e estacionamento; praças, ruas e parques sem manutenção ou abandonados etc. etc. etc. 
 
Casa das Rosas, SP. Foto: Anita Di Marco
Pq das Águas, Caxambu. Foto Anita Di Marco
É preciso recordar que desde as cavernas, primeiro refúgio da humanidade, a arquitetura abriga nossas atividades cotidianas: morar, estudar, trabalhar, comprar, cuidar da saúde, divertir-se, passear em espaços construídos ou abertos, públicos ou privados. A cidade é o ambiente que escolhemos para viver; é nossa casa maior e, portanto,TODOS somos responsáveis pelas cidades que construímos. É preciso compreender que a cada atitude, a cada traço e decisão de projeto, a cada obra construída, a cada rua aberta, a cada nova vaga de estacionamento, a cada diminuição do alcance do transporte público, a cada aprovação de um novo loteamento (e a lista segue)... estamos interferindo no espaço público, arrumando (ou desarrumando) o espaço urbano, criando um pedaço de cidade que melhora ou piora o todo e, portanto, afeta a vida de muitos, já que a cidade é de todos
Ademais, os que criam e aprovam as leis, põem a mão na massa e literalmente constroem a cidade – arquitetos, engenheiros, construtores, incorporadoras e poder público – têm mais responsabilidade ainda e devem se conscientizar de que seu papel é mais decisivo na qualidade do produto final que queremos para nossas cidades. Como diz aqui o arquiteto e amigo Marcelo Ferraz, do escritório Brazil Arquitetura, “Arquitetura é serviço” e é preciso que cada um tome consciência de seu papel na hora de exercer seu ofício. 

Praça das Artes, SP. Brasil Arquitetura.

Espera-se que, um dia, todos os cidadãos, em especial os ligados à construção civil e ao urbanismo, com suas ações cotidianas prestem um melhor serviço às cidades. Não por orgulho ou para se envaidecer, para ver seu nome e/ou projeto estampado nas redes sociais ou páginas de uma revista; tampouco para mostrar que “meu bairro é melhor que o seu”, ou “minha casa” é melhor que a sua. Não! Mas para mostrar que sabemos cuidar do entorno e do pedaço de cidade em que vivemos, que é uma parte de um todo, para que todos vivam com dignidade e qualidade de vida na nossa cidade, em um ambiente mais agradável, acolhedor, seguro e limpo. Se assim for, os diversos pedaços da cidade, somados, podem transformar o todo (e a vida de todos) para melhor. Nossas cidades (e você, leitor) agradecem! 

Referências

Uma vida toda lendo, estudando, observando, trabalhando e aprendendo sobre o tema "cidades". 

Brasil Arquitetura. <https://play.ebc.com.br/programas/399/episodios/5538/arquitetos-brasileiros>.

17 comentários:

  1. Muito bom Anita, gentilezas urbanas, podem ser feitas pela adminstração local, mas também por todos nós, e todos agradecemos e o planeta sofre menos.

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    1. Todo o dia, o tempo todo, em qualquer ação, né? Basta CONSCIÊNCIA, né? Abração

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  2. Na capital de SP a legislação se existe não é respeitada. As calçadas sem respeito ao pedestre têm desníveis, rampas de acesso às lojas, buracos e lixo. Além disso as bancas de jornais invadem a calçada e os pedestres não têm como passar. Se for cadeirante ou tiver carrinho de bebê não passa. As bancas enormes hoje shoppings centers ocupam com prateleiras externamente pra colocar jornais + a escada de acesso do dono. Fora isso as bicicletas de entrega de comida não querem nem saber.
    Enfim quem se responsabiliza?

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  3. Exatamente, Paulinho. Falou tudo, acham que o espaço público não é e de ninguém... grande ilusão. É nosso e se todos respeitassem a legislação e o espaço do outro seria tão diferente... um dia, quem sabe? Obrigada por comentar.. abraços

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  4. Muito bom, Anita!
    Vou compartilhar.

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  5. O terrível é que tornar uma cidade mais acolhedora não demanda tantos recursos públicos , mas significa controlar a especulação imobiliária que financia prefeitos e vereadores. Zé Marcelino.

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    1. Exatamente, vereadores, prefeitos e os que trabalham no poder público deveriam ser os primeiros a pensar nisso..... até quando, né? Abração

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    2. Exatamente, vereadores, prefeitos e os que trabalham no poder público deveriam ser os primeiros a pensar nisso..... até quando, né? Abração

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  6. Muito bom Anita!!! Disse tudo! Mariza

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  7. Anita Di Marco! Conheço vc de nome e de pensamento, há décadas. Gostei muito. Fiquei sabendo do seu texto pela amiga comum, Eneida Ferraz, companheira fundadora do nisso recém nascido Instituto Território das Vertentes, sediado em São João del Rei, nas atuando em todo o sulmineiro até a Mantiqueira. Compartilharei suas reflexões com meus alunos de Realidade Contemporânea e de Práticas de Urbanismo e Paisagismo, espalhados pelo Brasil. Muito obrigado por publicar!

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  8. Oi, Vasco, também te conheço há décadas de nome... quem sabe, agora, a gente se conheça pessoalmente....o tema sempre foi, mas está cada dia mais urgente, né? Vida longa ao instituto. Pesquise no blog. Tem muitos ecos urbanos e arquitetônicos ..Abraços, obrigada apareça sempre!

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  9. Parabéns pelo texto, Anita! Sim, é preciso planejamento e conservação, senão teremos espaços sucateados. Maus fácil cuidar da limpeza, da arquitetura, da construção. Abraços.

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  10. Parabéns pelo texto, Anita! Sim, é preciso planejamento e conservação, senão teremos espaços sucateados. Maus fácil cuidar da limpeza, da arquitetura, da construção. Abraços.

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  11. Muito bom Anitinha! Você sempre chamando atenção para alguma coisa de cotidiano nas cidades.Vamos observar com mais detalhes a vida nas cidades e o que ela nos oferecem de melhor a seu povo.

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  12. Belo texto … leve Anita .. e nos leva com gentileza à reflexão … e com consciência mudamos um pouquinho a cada dia… para conseguirmos enxergar o outro pertinho de nós…uma delicia este espaço também aonde encontramos pessoas com o interesse em cuidar do urbano e tb pessoas importantes em nossos caminhos como o Vasco meu orientador em 1980 em dissertação sobre urbanismo no Mackenzie

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  13. Este texto confirma a necessidade de aprendermos a conviver. Estamos estragando o único mundo que temos para viver!

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