Há algum tempo, publiquei aqui no Blog Anita Plural dois textos relativos à necessidade de empregar esforços para aperfeiçoar-se, seja no campo do saber, dos estudos, ou no âmbito do trabalho. O primeiro comparava o aprendizado à ingestão de vitamina C (ver aqui) e o segundo trazia a diferença entre trabalho e emprego, usando um exemplo do filósofo e educador Mário Sérgio Cortella (ver aqui). Bom, talvez este post possa ser considerado continuação de ambos, no que se refere à vida escolar.
Em geral, há uma visão um tanto distorcida e negativa das duas situações, entendendo-as como um "mal necessário". O trabalho, por exemplo, é visto como um mal, quando a noção que se tem dele é como tortura, derivado do termo latino tripalium, que designava um instrumento agrícola e de tortura. É entendido como um bem, quando visto como possibilidade de alcançar dignidade, vivenciar experiências, estudar, refletir e desenvolver-se como ser humano em todas as dimensões.
Aplica-se também à escola, à educação tradicional, essa visão de ser "um mal necessário". Parece-me um triste lugar comum, não sei se de todos os povos ou apenas de (alguns) brasileiros, essa história de repetir que a escola não serve para nada, o que é um grosseiro e gigantesco engano. Ao longo da vida escolar, recebemos uma carga de conhecimentos, informações e dados a serem entendidos, analisados, comparados a outros e sintetizados.
Nesse processo de
aprendizado, o aluno se depara com situações inusitadas e desconhecidas, se relaciona com
outros indivíduos e, a partir de suas vivências, amadurece e aprende a
olhar, sentir, perceber, comparar, respeitar e conviver em sociedade. Antes de tudo é desnecessário dizer que esse processo começa em casa, portanto, é urgente
que os pais orientem seus filhos a mudarem seus pontos de vista e atitudes sobre a
escola, mostrando-lhes o que eles criam para si próprios quando:
- “fingem" que vão à escola e, ao invés disso, vão jogar, curtir, vadiar, beber ou coisa pior;
- “preferem” ler um resumo do que uma obra literária completa;
- “afirmam” que “nunca vão precisar daquilo na vida”;
- “enganam" os professores (será?) e "fingem” cumprir as tarefas dadas;
- “acreditam” que só o que importa é passar de ano.
Só para
ficarmos no último item, por exemplo, avançar na escola é muito mais do que
“passar de ano”. Significa que o trabalho foi cumprido, assimilado e que o
aluno "cresceu" e se desenvolveu um pouco mais como indivíduo. Por isso, é imprescindível mudar o foco e o olhar sobre esse período primordial da vida. Escola é o
compromisso de cada criança, de cada jovem, assim como o trabalho o é quando nos
referimos a um adulto. É crucial que a criança entenda isso e cumpra bem suas
obrigações naquele período, porque é, sobretudo a partir do estudo, da educação
formal, que podemos aumentar nosso repertório de conhecimentos e experiências, nossas
habilidades de ler, interpretar, analisar, comparar com outros saberes, entender e tirar conclusões, ou seja,
de instruir-se, aprender, pensar, fazer correlações e desenvolver-se como um todo. (Continua no próximo post).
Referências
https://anitadimarco.blogspot.com/2015/03/linguas-traducao-aprendizado-e-vitamina.html
https://anitadimarco.blogspot.com/2021/07/ecos-humanos-trabalho-e-emprego.html
https://jornalsemanario.com.br/o-que-o-tripalium-significa-para-nos-hoje/
Muito bem👨🏫👩🎓
ResponderExcluirQue lindo Anita gostei muito
ResponderExcluirDesvaloriza-se o aprendizado escolar, aqueles que o ministram, e erige-se o Google como mentor. Somente o diploma é valorizado porquê ele é a chave de ingresso para concursos públicos em relação aos quais não há sucesso. Os diplomas são recibos de quitação de pagamento e já não comprovam sua relação com o aprendizado.
ResponderExcluirSábias palavras.
ResponderExcluirExcelente! Um adendo: não somente os alunos tem essa visão distorcida do período escolar como também todo o sistema educacional ainda tem muito que se adaptar às novas gerações. Beijão!
ResponderExcluirD. B. Ortega
Sem dúvida, Daniel, o esforço é coletivo; cada um no seu quadrado fazendo a sua parte, senão a conta não fecha!
ExcluirO estudo é o trabalho se fundem e a seriedade tem de existir! Parabéns, Anita!
ResponderExcluirMuito bom Anitinha! Você comentou o que muitos Pais e jovens precisam ler e ouvir.Bebel
ResponderExcluirMeu menino de 13 anos está como bolsista num conjunto musical de uma escola federal. Isto está fazendo muito bem a ele. Responsabilidade e foco são a bola da vez!
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