sexta-feira, 24 de julho de 2015

Línguas & Literatura: Mário, Oneyda e Varginha

Em março último, fiz um comentário sobre o livro À Outra Margem, do psicólogo, pesquisador e historiador José Roberto Sales, atual presidente da Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências – AVLAC (Línguas, Literatura & Tradução: À Outra Margem). 


 
Capa de À outra margem, 1ª edição

Agora, em segunda edição, o livro vem enriquecido por análise do autor / pesquisador sobre a troca de correspondência entre Mário de Andrade (1893-1945), mentor intelectual e depois amigo, e Oneyda Alvarenga (1911-1984), pupila, depois amiga e herdeira cultural do mentor. O autor analisa as cartas e destaca as observações feitas à cidade de Varginha, também sua terra natal, no cenário das cartas trocadas entre 1932 e 1940, mas também apresenta a cidade com os dados da época, conforme publicação de então, contrapondo, em alguns momentos, as opiniões de Oneyda sobre o caráter provinciano da cidade.


 
Capa da 2ª edição, baseada no quadro de José Fernando Campos, outro acadêmico da AVLAC

Cuidadoso, minucioso e perspicaz, o autor identifica o período histórico, as entrelinhas, os neologismos e vocabulário próprio de ambos e, mais importante, localiza e expõe ao leitor uma Oneyda sensível e tímida, determinada e corajosa, humilde e agradecida ao mestre durante sua busca profissional e pessoal, busca essa que teve início ao deixar Varginha e partir, corajosamente, para o mundo novo representado por São Paulo, em uma longa viagem de trem de 14 horas, à época... Mostra também um Mário de Andrade que discutia, ponderava, aconselhava, mas também se espelhava em Oneyda, que a incentivava e acreditava nela bem mais do que ela própria.  
A segunda edição de À Outra Margem será lançada em agosto, em data a ser definida, mas no dia 30 de julho na Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências, na Sala da Torre da Estação Ferroviária de Varginha, haverá outro evento com a presença e palestra de Valquíria Maroti Carozze, pesquisadora com formação em Biblioteconomia e Documentação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo - ECA-USP, Mestre em Filosofia pelo Instituto de Estudos Brasileiros – IEB-USP e especialista em Oneyda Alvarenga. Na ocasião, Carozze também lança seu livro “Oneyda Alvarenga: da poesia ao mosaico das audições” (São Paulo: Alameda, 2014. 450p.). A pesquisadora fez o texto de apresentação da segunda edição do livro de José Roberto Sales. 


 
Convite lançamento livro de Valquíria Carozze

Como se isso não bastasse para homenagear a ilustre personagem, pretende-se realizar uma exposição, com concepção e curadoria de Vanessa CTReis e eu, sobre a vida da folclorista, musicista, musicóloga e pesquisadora. 
Aos moradores da terra natal de Oneyda Alvarenga, caberá aproveitar essa fartura de eventos e  informações sobre a trajetória da varginhense iniciada ao deixar sua cidade natal para estudar piano com Mário de Andrade, pontuada pela amizade e respeito mútuo e coroada pela construção paulatina e sólida de seu saber sobre folclore, música e etnografia, materializada na organização do acervo musical e de folclore da Discoteca Pública Municipal de são Paulo, hoje localizada no Centro Cultural São Paulo e denominada  Discoteca Municipal Oneyda Alvarenga. Oneyda foi a primeira diretora da instituição e permaneceu no cargo de 1935, ano de sua criação, a 1968, quando se aposentou. 
Em sua terra natal, no entanto, 'Oneidíssima', como às vezes Mário de Andrade a tratava, talvez mereça maior divulgação para ser mais conhecida e reconhecida. O trabalho de José Roberto Sales permite que a cidade olhe com outros olhos para a filha ilustre que emprestou seu nome a logradouros e instituições públicas em Varginha e São Paulo, além de ser autora de diversas publicações e trabalhos na área.

É fundamental mostrar, às novas gerações, o passado, as tradições, as conquistas do país, sobretudo com aqueles personagens da terra natal. Mas não se trata de bairrismo e sim de apontar a grande contribuição dessa personalidade na vida cultural brasileira. Trata-se de destacar e apreciar aquilo que temos e que, muitas vezes, não é devidamente valorizado, sobretudo quando se trata de uma figura feminina. Infelizmente, muitas mulheres ainda são invisíveis aos olhos de muitos. 
Quatro momentos que têm Oneyda Alvarenga como tema, quatro tributos: dois livros, uma palestra e uma exposição; quatro privilégios para a população local. Só a ela cabe aproveitar esses momentos e mergulhar no universo magnífico de construção do conhecimento e de sua própria cultura.
Parabéns aos pesquisadores e autores, José Roberto e Valquíria pelo empenho e seriedade de suas pesquisas; parabéns aos organizadores, parceiros e patrocinadores da exposição.
Oxalá, o nome de Oneyda Alvarenga seja sempre lembrado e reverenciado junto com o grande Mário de Andrade, não só no Brasil, mas também e, sobretudo, na sua própria terra natal - Varginha, sul de Minas Gerais.    

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