Dentro de nossa tradição, referência e prática de yoga
o YogaSutra,
compêndio elaborado por
Patanjali e subdividido em quatro livros que totalizam 195 aforismos, vamos
falar um pouco de cada uma das restrições e observâncias (yamas e niyamas), que constituem o código de conduta ética do yoga
e estão presentes no segundo livro, o livro da Prática (Sadhana Pada).
Mas, não vou falar na ordem em que aparecem. Vou falando de acordo com aquilo
que os alunos me solicitam.
Hoje falo de Santosha, a terceira observância (niyama). Traduz-se por contentamento, alegria interior, equanimidade [contentment under all circumstances]. O centro de
gravidade do praticante de santosha está
em si próprio e não no outro, ou nas circunstâncias externas. Ele não permite
que nada o abale, o que reafirma o terceiro sutra,
do primeiro livro, o Samadhi Pada:
Então o Observador permanece nele mesmo.
- YS-I, 3.
Um detalhe sutil, mas fundamental para a aquisição da
observância do contentamento, é encontrada em outras traduções: é a palavra ‘cultivo’. Santosha não brota do
nada, pelo simples desejo. É uma prática a ser cultivada, nutrida, regada,
cuidada e preservada, assim como um bebê ou uma planta tenra que
pode sofrer abalos a todo o momento.
Da alegria nasceram todos os seres; pela alegria existem e crescem; à alegria eles retornam.
- Taittirya Upanishad
Depende da vontade de cada um desenvolver esse olhar
atento e cuidadoso, pois santosha depende
da atitude que se tem diante da vida, daquilo que se vê e da forma como se vê:
- Quando
alguém lhe oferece um copo com água até a metade, o que você vê? Um copo meio
cheio ou um copo meio vazio?
Essa atitude fará toda a diferença na vida. O contentamento
enraizado torna tranquilo e pacífico aquele que o pratica, sem sentir que é ameaçado
ou desafiado, a todo o instante. Aquele que está firmado no contentamento
interior, em santosha, representa um
violento a menos na sociedade. É um ser disponível, mas nada espera; assume o
compromisso de agir da melhor maneira possível, em todos os campos e
atividades, porém sem acomodação e enfrentando cada situação com uma mente
lúcida e serena.
Age como um profissional da Vida, faz o que deve ser feito, o
que gostaria que lhe fizessem; não tem aversões (dvesha) ou desejos e apegos
(raga),
age de forma consciente e, portanto, não reage de forma impensada, regido
apelas pelo instinto.
Santosha pede ao praticante que faça do trabalho, do estudo, da rotina ou de
qualquer atividade da vida diária um ato de consagração à Vida. Para isso não é
necessário renunciar à vida, mas deixar que o espírito de renúncia
reine em nossas atividades.
YS II-29. Yama (restrição), Niyama
(observância), Asana (postura), Pranayama (regulação da respiração), Pratyahara
(restrição dos sentidos), Dharana (fixação), Dhyana (meditação) e Samadhi (contemplação) são os oito meios de se alcançar o yoga.
YSII-30. Ahimsa (não-violência), Satya (verdade), Asteya (abster-se do que não lhe pertence),
Brahmacharya (continência, moderação) e Aparigraha (não acumulação, não avareza, desapego), são os cinco
Yamas (restrições).
YS II-31. Estas restrições, no
entanto, são um grande voto quando tornam-se universais, não sendo restringidas
por qualquer consideração de classe, lugar, tempo ou conceito de dever.
YS II 32. Saucha (Pureza), Santosha (contentamento), Tapas (austeridade, disciplina
mental e física), Svadhyaya (estudo das escrituras e autoestudo) e Ishvara
Pranidhana (devoção ao Absoluto, entrega) são os Niyamas (observâncias).
YS II-33. Quando estas restrições e
observâncias são inibidas por pensamentos perversos, o oposto deve ser pensado.
Referências:
Taimini, I.K. A ciência do yoga. Trad. Milton Lavrador. Brasília: Ed. Teosófica, 2004
http://www.geocities.com/Athens/6709/page8.html
Taimini, I.K. A ciência do yoga. Trad. Milton Lavrador. Brasília: Ed. Teosófica, 2004
http://www.geocities.com/Athens/6709/page8.html
Publicado em: 22/julho
2015
Difícil conseguir isto tudo, né? Mas muito interessante também. Parabéns!
ResponderExcluirIone