segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Ecos Culturais | Tradições de Ano Novo

Nessa época e no mundo todo, os votos são para um Feliz Ano Novo. Algumas horas antes ou depois, a depender do fuso horário, os desejos se somam para criar um mundo melhor. A energia positiva lançada é imensa, mas os costumes variam de um lugar para o outro. Em comum, a diversão, a alegria, a esperança de que algo mude. Porém, é fato que algo só muda se nós mudarmos. Qual sua proposta de mudança para 2021? Neste ano surreal de 2020, muitas comemorações foram acertadamente canceladas, devido à necessidade de evitar aglomerações. Vale, então, lembrar algumas delas, em anos normais:

África do Sul: As comemorações se espalham por todo o país: em Johannesburgo reunindo milhares de pessoas, seja no carnaval no Cabo da Boa Esperança, seja com os tambores na Cidade do Cabo, até 02 de janeiro. Celebra-se também o Dia da Emancipação, em 1830, quando os escravos foram libertados na África do Sul.

Alemanha – O Portão de Brandemburgo, em Berlim, registra a maior festa de rua. Nas casas, fondue com amigos, fogos de artifício, espumante, abraços, beijos e muitos votos.  

Austrália:  A Ponte da Baía de Sydney e a bela Opera House formam o cenário mais conhecido da festa e da cidade. E ainda queima de fogos, praia e churrasco com amigos.

Brasil: A mais famosa é a queima de fogos de Copacabana, sem dúvida, mas o Brasil todo comemora o novo ano com festa e alegria. Vestir branco, tomar espumante, pular 7 ondas, comer lentilhas ou guardar 3 caroços de romã na bolsa são algumas das simpatias mais conhecidas para trazer sorte.  

Bulgária: Como gesto que invoca saúde e riqueza, as crianças vão de casa em casa dando tapinhas nas costas dos moradores. No dia 01, os Kukeri, homens vestidos de monstros, dançam para espantar maus espíritos.  

Espanha:  Em Madri, na Praça Puerta del Sol, uma torre marca 12 badaladas. E a cada uma come-se uma uva, totalizando 12, símbolo de sorte.  

Estados Unidos: Times Square, em Nova York, é o evento mais divulgado, mas há queima de fogos em todo o país. Comer lentilhas também é hábito de algumas regiões, para trazer sorte e dinheiro. 

França: Hoje, a torre Eiffel é palco da queima de fogos e de um belo jogo de luzes. Nas casa, champanhe, patê de fígado de ganso ou ostras. Na costa, o banho de mar também é popular.  

Grécia: Sem muitos fogos na Grécia. As famílias jogam cartas e outros jogos e a sorte vem para o vencedor. No Dia de Reis, 6 de janeiro, celebra-se o batismo de Jesus com um mergulho n'água, o que  afasta os maus espíritos.

Holanda: A queima de fogos para afastar os maus espíritos começa cedo, às 10h, e dura o dia todo. Bem popular é a queima de carbureto, brincadeira nada segura. 

Itália: Em Roma, no dia 31, há vários concertos ao ar livre e, na ceia, come-se joelho de porco e lentilhas, símbolo de sorte nas finanças. Roupas íntimas vermelhas simbolizam sorte e felicidade no novo ano.

Japão: A faxina precede a festa, já que, como organização, o Japão é impecável, ou seja, antes da virada do ano há a grande faxina de Ano Novo. No dia 01, são servidos os famosos bolinhos de arroz (moti), que significam sorte e vida longa, bem comuns no bairro da Liberdade em São Paulo. Após a meia-noite, 108 batidas do relógio afastam 108 males.  

Reino Unido: Na capital, Londres, a queima de fogos acontece na roda-gigante London Eye e reúne milhares de pessoas.  As famílias comemoram em casa com jantar e espumante.

Rússia: O ponto alto é na Praça Vermelha. Nas casas, o país todo celebra as festas da árvore ("yolka"), as famílias ceiam em torno de um pinheiro e brindam ao novo ano.

Esteja onde estiver, não se esqueça de orar e agradecer por estar vivo. Fique em casa, reverencie quem partiu, respeite o distanciamento social e deixe o abraço concreto para mais tarde. Por ora, desejo um feliz 2021 para todos nós (mesmo com máscaras), para o mundo todo, um novo ano diferente, menos belicoso, menos consumista, menos sofrido e muito, muito mais humano, mais consciente, mais sincero, mais leve, mais saudável, mais justo e solidário. Afinal, todos nós merecemos porque somos UM!  

Ubuntu para todos nós, namastê! 

Referências:

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Ecos Culturais | Outros Centenários

Seria impossível homenagear em posts individuais todos que fariam 100 anos em 2020. Já falei de Clarice Lispector e João Cabral, mas cito agora outros destacados em suas respectivas áreas. Como sempre, cada um deles têm a ver com minha história, de um modo ou de outro.   

ARTES PLÁSTICAS: 

Amilcar de Castro (Paraisópolis-MG, 8 jun. 1920 –Belo Horizonte, 21 nov.2002). Foi escultor, artista plástico, desenhista, cenógrafo, professor e designer gráfico, responsável pela reforma gráfica do Jornal do Brasil nos anos 1950. Premiado aqui e no mundo, suas obras são, principalmente, em chapas de ferro, dobradas e tridimensionais, espalhadas em jardins, praças e espaços culturais do país e do mundo. Já cruzei com várias delas nos espaços públicos. A última exposição dele que visitei foi no Itaú Cultural, em 2019.

León Ferrari (Buenos Aires, 3 set.1920— 25 jul.2013) foi um artista conceitual argentino autodidata. Guerras, a religião e todas as formas de intolerância eram temas comuns em suas obras. Em evento do Movimento pela Anistia, em 1985, consegui uma gravura dele (Serigrafia, sem título, 1983, 50 x 70 cm).

Lygia Clark (Lygia Pimentel Lins, BH, 23 out.1920 – Rio, 25 out. 1988), artista contemporânea que se intitulava “não artista”. Participou do Manifesto Neoconcreto e buscava superar o suporte artístico, na relação entre arte e psicanálise. No início da década de 2000, tive mais contado com a obra dessa artista e de Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro, quando meu livro sobre a Sala São Paulo foi lançado no Rio.   

Tikashi Fukushima (Japão, 19 jan.1920—14 out.2001). Artista, pintor e gravador nipo-brasileiro que ingressou nas Artes Plásticas, após a segunda guerra, depois de conhecer Manabu Mabe. Participou de vários grupos artísticos, recebeu inúmeros prêmios e sua última exposição Fukushima por Fukushima (2001), na Pinacoteca de SP, teve a curadoria de seu filho, o gentil Takashi Fukushima, com quem convivi um pouco nos meus anos de FAU-USP. Takashi é artista plástico, cenógrafo e gravador.

CINEMA:

- Federico Fellini (Rimini, 20 jan. 1920--31 out.1993, Roma, Itália), cineasta italiano, dono de um estilo único, que criou obras-primas como "La Dolce Vita", "Oito e Meio" e "La nave va", entre outras.  Além disso, meu amigo da FAU-USP, Antônio Carlos Carneiro, imortalizou o nome desse último filme, como seu bordão (ver aqui). 

 ECONOMIA, SOCIOLOGIA E POLÍTICA:

- Florestan Fernandes (SP, 22 jul.1920 – 10 ago.1995), sociólogo e político, foi deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Recebeu o Prêmio Jabuti em 1964, pelo livro Corpo e Alma do Brasil e, o Prêmio Anísio Teixeira. Sempre respeitado, lembro-me de suas falas corajosas e coerentes nos tempos da FAU-USP.

Celso Furtado. Imagem: Divulgação
- Celso Furtado (Pombal, PB,1920 – Rio, 20 nov.2004). Advogado, com pós-doc pela Sorbonne de Paris em economia colonial brasileira, um dos intelectuais brasileiros mais lidos e traduzidos no mundo. Foi titular da Sudene, de 1959 a 1964, ministro de Planejamento de João Goulart e (1963). Exilado durante a ditadura militar, foi professor de Yale e Columbia, nos Estados Unidos, da Sorbonne, em Paris, e de Cambridge, na Inglaterra. Na volta, Ministro da Cultura no governo Sarney (1986-88), criou a primeira Lei de Incentivo à Cultura, aliando criatividade e cultura e condições de desenvolvimento e progresso social. As leis posteriores financiavam grandes produções e a exceção ficou com os Pontos de Cultura, implantados pelo ministro Gilberto Gil, na gestão do presidente Lula, entre 2003 e 2008. Na ABL desde 1997, na cadeira de Darcy Ribeiro. Impossível pensar criticamente sem ler Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes e outros mais.

 LITERATURA:

Mário Puzo, Mario Gianluigi Puzo (NY 15 out.1920 — Bay Shore, 2 jul. 1999), escritor norte-americano conhecido pelos livros sobre a máfia, como a famosa trilogia O poderoso Chefão, adaptada para o cinema por Francis Ford Coppola como (The Godfather), em 1972, 1974 e 1990. Falas e cenas históricas me perseguem até hoje.

José Mauro de Vasconcelos (Rio de janeiro, 26 fev.1920 --24 jun.1984). Quem não leu na escola o clássico Meu pé de Laranja Lima? Inesquecível romance lançado em 1968 e também o mais famoso do autor. Mas eu me lembro também de Rosinha Minha Canoa. Alguém? 

Isaac Asimov (Rússia, 02 jan.1920-NY, 06 abr.1992). Criado nos Estados Unidos, popularizou a ciência pelo seu estilo simples. Doutor em bioquímica, lecionou na Faculdade de Medicina de Boston. Publicou, em 1950, o clássico Eu Robô, mas, aos poucos, o escritor superou o professor. Seu romance O Homem bicentenário (1976) foi adaptado para o cinema em 1999. Sempre povoou minha imaginação.  

 MÚSICA:

Ravi Shankar. Imagem: Divulgação

 Mario Zan (Mario Giovanni Zandomeneghi (Roncade, 9 out.1920 — SP, 9 nov.2006). Acordeonista italiano, da região do Vêneto, compôs o hino do IC Centenário de São Paulo.  Foi autor da maioria das músicas das festas juninas em São Paulo. 

 Ravi- shankar. Pandit Ravi Shankar (Varanasi, Índia- 07 abr.1920–Califórnia, 11 dez.2012). Indiano, Ravi shankar era um violinista, tocava sitar e popularizou no Ocidente a música indiana, sobretudo pelo contato com os Beatles. Foi professor de George Harrison dos Beatles e fez vários concertos com este. Impossível gostar de Beatles (e eu amo) e não ter ouvido Ravi Shankar. 

Referências

https://www.ebiografia.com/jose_mauro_de_vasconcelos/
https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Ha-10-anos-morria-Celso-Furtado/4/32272
http://celsofurtado.phl-net.com.br/cgi-bin/wxis.exe?IsisScript=phl82.xis&cipar=phl82.cip&lang=por
https://www.infoescola.com/escritores/isaac-asimov/
https://pt.wikipedia.org

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Ecos Humanos | DNA e Filosofia Ubuntu

Já comentei aqui sobre o Festival de Vida Sustentável - LivMundi, evento realizado virtualmente em outubro último, que objetiva dialogar e despertar a consciência para proteção do outro, do meio ambiente e para uma vida mais saudável e mais relacionada com o invisível. Um dos temas abordados foi Vida em rede, que destacou a necessidade interromper a forma individual de pensar, uma vez que vivemos em rede e já foi provado que cada atitude nossa tem impacto no todo. A pandemia de Covid-19 nos mostrou isso de forma cristalina. Essa inter-relação, de forma muito didática, foi trazida pela Dra. Lygia da Veiga Pereira, professora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo - USP, pesquisadora e coordenadora do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (LaNCE USP), laboratório que desenvolve pesquisas voltadas ao tratamento e à cura de diversas doenças. Para conhecer mais sobre essas pesquisas ouça uma entrevista dela aqui

A pesquisadora, que é também coordenadora do Projeto DNA do Brasil, iniciou sua fala no Festival mostrando a imagem de uma célula e fazendo uma pergunta-chave: 

- Como é que passamos de seres unicelulares, que já fomos, e chegamos à complexidade do ser humano?

De maneira didática, explicou que a multiplicação das células, dando origem aos diferentes tipos de células de um mesmo indivíduo, ocorre de forma organizada porque segue a receita presente em seu núcleo, ou seja, a sequência completa do DNA (ácido desoxirribonucleico), o genoma humano (composto por 3,2 bilhões de letras), ou ainda, o conjunto de todos os genes de um ser vivo. Ao ler esse genoma, aquela célula consegue se multiplicar e se transformar em um indivíduo único. Salientou que temos 20 milhões de genes no nosso genoma e que, hoje, não existe um só genoma humano, mas mais de 7 bilhões.

Então, ela lançou uma segunda pergunta que escancara o que muitos insistem em não ver e cuja resposta foi melhor ainda: 

- Quando o genoma, o DNA, de duas pessoas é idêntico? 

Dra. Lygia explicou que somos 99,9% idênticos, o que significa que as desigualdades, as diferenças entre cada ser humano (raça, cor dos olhos, cabelo, feições) concentram-se no ínfimo índice de 0,01% do nosso DNA. 

Será que ficou claro ou ainda é  preciso desenhar? Ou seja, os resultados do Projeto DNA do Brasil, coordenado por ela, mostram que somos o produto de um cadinho onde se misturaram, em diferentes proporções, caucasianos (brancos), índios, europeus e africanos. Quer dizer, o brasileiro não tem uma “feição” única, típica e marcada, porque somos todos, em maior ou menor grau, produtos dessa mistura. Dra Lygia destaca ainda que, ao investigar nossa ancestralidade, as pesquisas têm demonstrado que é possível recuperar genomas de africanos de diversos locais da África, de vários brancos e até mesmo de índios que já foram extintos, mas que sobrevivem no brasileiro atual.

Resumo da ópera: gostemos ou não, aceitemos ou não, o povo brasileiro é fruto dessa mistura maravilhosa de raças. Mais do que nunca, a Ciência e as pesquisas desenvolvidas na universidade pública provam que a vida se organiza em rede, que o que ocorre com um só indivíduo afeta o todo e que somos todos um. Tudo isso mostra o que a filosofia Ubuntu, registra lindamente em suas histórias: Sou o que sou porque nós somos!

Ubuntu para todos nós! Viva a consciência da unidade, viva a ciência, viva a universidade pública gratuita, plural e de qualidade!

Referências:
http://jornal.usp.br/radio-usp/radioagencia-usp/a-importancia-das-pesquisas-com-celulas-tronco/ .
https://www.youtube.com/watch?v=tHmrmDw_Nd0