sexta-feira, 5 de julho de 2024

Ecos Humanos | A arte do encontro

https://www.youtube.com/watch?v=YacrKDzDJo4

Apesar de me lembrar e de imaginar que você, caro leitor, também deve se lembrar, não vou citar aqui a famosa frase de Vinícius de Moraes que remete ao título desta postagem. Agora, não posso deixar de falar do Samba de Uma Nota Só (1959). Sem dúvida, é outra canção deliciosa da nossa MPB, mas depois de cantar e cantar e cantar, sempre perguntava aos meus botões: "uma nota só faz samba?" Nunca tive resposta, mas convenhamos, se fizer, só mesmo com alguém do nível de Tom Jobim e Newton Mendonça, seus autores...

Essa história de eu e eu sozinho, de uma andorinha só, do “eu, só eu e mais ninguém” não dá certo. Quando você declama num palco, dança uma coreografia, faz uma performance, atua ou toca um instrumento, você precisa do retorno do espectador, do ouvinte e da emoção do público: um músico precisa sentir que sua música toca os corações; um escritor, que seu livro atinge a sociedade; um professor, que seu aluno entendeu a mensagem; uma mãe, que seu filho compreendeu sua preocupação.

 Ora, se a experiência não tem interlocução também não tem retorno, e o que resta é um gostinho amargo de vazio, de não valer a pena, de perda de tempo, porque o que vale é a troca e, nessa troca, a transformação de um e de outro. Professor e aluno se enriquecem mutuamente nessa troca. Já dizia Paulo Freire que "Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar." Basta boa vontade e humildade dos dois lados. Essa troca nos faz mais fortes, mais humanos, mais tolerantes, mais ricos em conhecimento e conteúdo.

Vinda lá do meu baú, uma historinha chinesa retrata bem essa essa partilha. É assim: Dois indivíduos caminham por uma estrada, cada um com um pão; se, ao se encontrarem, eles trocarem os pães, cada um vai embora com um. Porém, se dois caminham por uma estrada, cada um com uma ideia e, ao se encontrarem, trocam as ideias, cada um vai embora com duas.” 

Talvez isso justifique a troca, uma troca que só enriquece, multiplica o conhecimento trocado e jamais o diminui. Isso é da lei da vida. No encontro com o outro, é preciso transformar e transformar-se, deixar marcas e ser marcado. Só assim aprenderemos a viver, cada vez mais, como parceiros de caminhada com o mesmo destino, não como inimigos. Como a imagem ao lado, a vida funciona como a dança circular: não dá para dançar sozinho ou fazer uma roda sozinho; a dança e a roda só funcionam e fluem quando o coletivo prevalece, quando todos acolhem e se apoiam uns nos outros.
 
Referências

15 comentários:

  1. Sem receptor a mensagem se perde no ar.

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  2. Que delícia de texto… tem melodia… um cantarolar lindo… obrigada . Bjs IsaRe

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  3. Anira, gostei muito do seu texto. Simples, objetivo, completo. Agora, falar de música é algo especial, né?!?!? E especialmente quando o foco está na música de qualidade - Tom Jobim, para começar!

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  4. Raquel Aguiar Stopiglia7 de julho de 2024 às 20:13

    Sempre muito bom ler seu blog. Parabéns!

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  5. Sei sempre attenta e precisa nei tuoi testi e sono d'accordo se non c'è un feedbech tra le persone non esiste nulla.Un grande abbraccio.

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    1. Veri, Tonino....e lê personne, noite, non possamos dimenticare questo.. grazie e um abbraccio

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  6. Sequer existiríamos se não fossemos voz a ser reconhecida. ( Lilian Conde)

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  7. Muito bom! Bem completo! Bebel

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  8. Formidavel exemplo de união exitosa

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  9. Adorei a história dos dois chineses! Fiz Biodança durante bastante tempo e fiz na prática essa roda e a poética do encontro. Parabéns, Anita, por mais um texto! Abs

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    1. Valquíria, hj faço dança circular. Já escrevi sobre isso aqui no blog. A poética do encontro é necessária. Abraços e obrigada

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  10. Parabéns Anita , mais um belo texto - da nota só a historinha chinesa. Com certeza o fazer sozinho não tem muita graça !

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  11. Como sempre, Anita nos surpreende com seus textos envolventes. Bjs. Saudades de um bom papo. Qualquer hora irei a Varginha.

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