Conheci Mafalda em 1970, não me lembro onde, nem com
quem estava. Só sei que ela me foi apresentada e, de cara, me apaixonei pela
garota questionadora, reflexiva, crítica, inconformada com as injustiças do
mundo globalizado e consumista. Alguém que odiava o racismo, não compactuava com a desonestidade, era intolerante com a mediocridade e o tempo todo se
preocupava com a política e a paz no mundo.
Ao lado: Mafalda e Quino. Imagem do jornal GGN (http://jornalggn.com.br)
Anos depois, conheci pessoalmente a figurinha singular, em Buenos Aires, sentada em um banco de praça, as mãozinhas
pousadas nos joelhos. Parada obrigatória para quem vai à capital argentina, mas mais
ainda para quem pensa como ela. A estátua de Mafalda, obra do artista plástico Pablo Irrgang, naquela praça da
capital portenha é só o ponto de partida de um roteiro turístico de humor, ‘El
Paseo de la Historieta’, que passa por 15 esculturas de outros personagens de histórias
em quadrinhos do país. Começa em San Telmo com a estátua da garota e termina
no Museu do Humor, inaugurado em 2012, em Puerto Madero.
Ao lado: Mafalda e Quino. Imagem do jornal GGN (http://jornalggn.com.br)
Criador e criatura na Rua Chile c/Defensa, San Telmo, BAs. http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/ |
Queria muito reencontrá-la na exposição O Mundo de Mafalda, realizada, em
2014, na Praça das Artes, em São Paulo, mas não
consegui.
Imagem: Jornal GGN |
Já em 1968, Umberto Eco a comparara com Charlie Brown, criação do norte-americano Charles Schulz, pois via em ambos um temperamento triste e suave, apesar das origens, vivências e expectativas diferentes - ele dos Estados Unidos e ela, da América Latina. Eco sempre ressaltou, no entanto, que Mafalda era uma heroína dos nossos tempos.
Hoje, ilustre cinquentona e cidadã do mundo, Mafalda
já assumiu dimensão própria, universal e atemporal, tendo sido traduzida para
mais de 20 idiomas. Em carta de apresentação a um editor (1), ela fala de
si própria: diz que a maioria dos governantes de hoje está “surda” diante da
opinião e das necessidades dos outros e se declara socialista.
Para Quino, que teve que abandonar a Argentina durante a ditadura militar (1976–83), o socialismo ainda é a melhor forma de governo existente, acrescentando que “se pensarmos que o cristianismo levou três séculos para se impor, por que não podemos pensar que o socialismo voltará e que, finalmente, poderemos viver em um sistema mais justo e mais humano para todos? ” Salienta ainda que as ações e atitudes de Mafalda não irão mudar o mundo, mas, com certeza, irão ajudar: “É aquele pequeno grão de areia com o qual contribuímos para que as coisas mudem”. (2)
Além de Eco, a personagem marcou grandes nomes, como o
escritor Júlio Cortázar, que teria dito: “Não tem importância o que eu penso da
Mafalda. O que importa é o que a Mafalda pensa de mim”.
- Mafalda: 6 anos, contestadora, crítica, justa e irreverente. Suas paixões são os Beatles, a paz, os direitos humanos e a democracia. Não gosta: de sopa, que lhe perguntem se gosta mais do ou pai ou da mãe, de calor e de violência. Dizia que quando crescesse seria tradutora da ONU, para ajudar os comissários a se entenderem;
- Seus pais: típico casal de classe média: a mãe, dona de casa e o pai, corretor de seguros que vive fazendo as contas para chegar no fim do mês. A mãe abandonou a universidade para formar a família, coisa que a Mafalda critica sempre que pode;
- Felipito: um garoto doce, bom, sonhador, tímido, preguiçoso
e desligado; às vezes, romântico;
- Manolito: filho do quitandeiro, é teimoso, bruto,
materialista e ambicioso, mas no fundo com um bom coração;
- Miguelito:
sonhador como Felipito, apesar de ser mais egoísta e nada tímido; vive fazendo
perguntas inúteis, já que se julga o centro do mundo e ninguém consegue convencê-lo do
contrário;
- Susanita: fofoqueira, egoísta e briguenta por vocação; segundo
Mafalda, ela “parece o prêmio Nobel da
classe média, com seus sonhos pequeno-burgueses”; detesta os pobres e as
reflexões de Mafalda e, claro, não está nem aí com o destino do mundo;
- Libertad:
ainda é um bebê, espécie de Mafalda em miniatura, mas menos tolerante; fica nervosa com pessoas complicadas. Intelectual, crítica e perspicaz, ama a
cultura e as reivindicações sociais. Sua jovem mãe é tradutora de francês e o
pai nunca aparece, mas sabe-se que é socialista;
- Guille: é
o irmãozinho de Mafalda, na idade da inocência em que tudo está
para ser descoberto. É o único personagem que cresce de uma tira para outra. A
sua paixão são os rabiscos nas paredes, a chupeta on the rocks e
Brigitte Bardot.
Se gostou, não deixe de ler e reler. Você vai se divertir e refletir também. Uma pérola, principalmente, nos dias que correm...
Referências:
Se gostou, não deixe de ler e reler. Você vai se divertir e refletir também. Uma pérola, principalmente, nos dias que correm...
Referências:
(1) Carta de
apresentação de Mafalda
http://www.mafalda.net/index.php/PT/
Jornal GGN- http://jornalggn.com.br/blog/eli-rezende/mafalda-atual-e-cinquentenaria-por-eliana-rezende
Jornal GGN- http://jornalggn.com.br/blog/eli-rezende/mafalda-atual-e-cinquentenaria-por-eliana-rezende
Bonito o escrito!Espero que a Mafalda perdure para sempre e possamos refletir sempre em seus ensinamentos. Bebel
ResponderExcluirAmém... Acho que as novas gerações teriam um material imenso para reflexão ali... beijos, querida! Obrigada
ExcluirMafalda, sempre um dizer para refletir
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