sexta-feira, 1 de abril de 2016

Paisagem Construída | Cobogós & Cia.

Imagem:Cobogós:  herançacultural.com.br

Para quem desconhece o termo, um bom dicionário de língua portuguesa ou de arquitetura nos traz a definição adequada:
 1. Arq.Cons. Peça de construção vazada, feita de cerâmica, cimento, gesso etc., utilizada em paredes e fachadas com o fim de obstruir a incidência direta dos raios solares mas permitir a ventilação e a entrada de luz natural. 
E vai além, diz de onde surgiu o nome.  
[F.: Das iniciais dos sobrenomes CO_imbra, BO_eckmann e GÓ_is (posv. dos engenheiros que iniciaram o uso desse tipo de elemento vazado, em PE, nos anos 1930)].      
E ainda dá uma variação possível, dentre outras. [Var.: combogó.]

Heureca! Tudo de bom. 
Cobogós são elementos construtivos modulares e vazados, versáteis, criativos, lúdicos e utilíssimos: filtram parte da luz, deixam passar uma ventilação suave, impedem o olhar perscrutador que devassa, mas deixam entrever algo do que acontece do outro lado, a depender da luz...sempre a luz. 

Seus ancestrais, os tradicionais muxarabis da arquitetura mourisca, (treliças de madeira em janelas e balcões que garantem privacidade das mulheres), também permitiam a visão de dentro para fora, não o contrário. Depois de passar por Portugal, os tais fechamentos também chegaram na nossa arquitetura colonial, em discretas treliças e gelosias [Do Aulete: sf. 1. Arq. Grade de ripas de madeira cruzadas no vão de porta ou janela, que permite a quem está no interior ver o exterior sem ser visto com clareza; RÓTULA; 2. Persiana que pode ser enrolada em sua parte superior. [F.: Do it. gelosia 'persiana #####]].

Cobogós são uma invenção do final da década de 1920, precisamente, 1929. Hoje, estão de volta, para deleite de arquitetos e apreciadores das nossas tradições. Como visto acima, o termo surgiu a partir da junção das iniciais dos sobrenomes dos criadores, três engenheiros atuando em Recife: o português Amadeu Oliveira COimbra, o alemão Ernest August BOeckmann e o brasileiro Antônio de GOis.  

No início, eram feitos só de cimento ou concreto, mas com o tempo surgiram cobogós de outros materiais como argila, vidro, cerâmica, madeira, plástico e até porcelana.  Arquitetos como Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Afonso Eduardo Reidy, João Filgueiras Lima (o Lelé) e outros tantos grandes arquitetos modernos os utilizaram em inúmeros projetos. Brasília está recheada de edifícios com cobogós e também Recife, Olinda, Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Belo Horizonte etc. Depois, durante algum tempo, o cobogó foi visto com um olhar preconceituoso e pejorativo, confundido com fechamento da 'fachada de fundos'. 

Agora, repaginados ao gosto do cliente e dos arquitetos, conforme o bolso e a criatividade de cada um, os elementos vazados, ou cobogós, reapareceram com toda sua potencialidade e brasilidade e continuam criando poesia concreta com seus jogos de luz e sombra nos ambientes, através das  mãos de diversos arquitetos, como, por exemplo, Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci (Brasil Arquitetura) e Márcio Kogan (mk27), só para citar alguns. 

Edifício Eiffel (1956), de Oscar Niemeyer, região central de São Paulo, com seus famosos cobogós na fachada . Imagem: Wikipedia.   
Centro de Tecnologia e Geociências. Proj. Regional Esteves,Campus UFPE|Foto:Josivan Rodrigues
Biblioteca Nacional de Brasília (2008), projeto de Oscar Niemeyer. Imagem: Wikipedia.
Casa Cobogó. Studio MK 27, Marcio Kogan e Carolina Castroviejo. Foto: Nelson Kon
Conj. Habitacional Pedregulho (1952), singular empreendimento de habitação social no Rio de Janeiro. Projeto do arquiteto Affonso Eduardo Reidy (1909-1964) e direção da engenheira Carmem Portinho (1902/2002). Primeiro prêmio na Bienal Internacional de SP, 1951. Traz também painéis de Cândido Portinari e paisagismo de Roberto Burle Marx.   


Vejam o excelente vídeo com explicações pelos arquitetos Luciana Saboia, prof. da UnB, e  André Nepomuceno. Brasilidade-História do Cobogó|Arquitetura Brasileira (TV Camara).  

 
Blog do Dimitri: http://dimitriganzelevitch.blogspot.com.br/2015/09/o-uso-do-cobogo.html

3 comentários:

  1. Sempre um prazer ler seus artigos, obrigado.

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    1. Eu e que agradeço. sempre bom receber comentários de wuem entende... Abraços e volte sempre.

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    2. Eu e que agradeço. sempre bom receber comentários de wuem entende... Abraços e volte sempre.

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