quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Memória & Vida |Sobre águias, filhos e pais*


  * Texto da autora, Anita Di Marco, publicado originalmente no boletim  Beleza in | Comportamento:    http://belezain.inter7.com.br/modulo_inteiro.php?cod=105     

Início do ano letivo. 
Novas conquistas, novas decisões, novas fases da vida. Sobretudo para os pais de jovens que ingressam em universidades em outras cidades, às vezes outros estados. Apesar da alegria pela conquista dos filhos, não há como negar certa sensação de abatimento e preocupação. Por isso acho que o tema vem bem a calhar...  
Certa vez li um texto que falava sobre uma águia que, gentilmente, mas com o coração dolorido, empurrava seus filhotes pelo penhasco... porque era chegada a hora de irem ao encontro de seu destino e de descobrirem que tinham asas...
Chega o tempo em que os filhos se vão, querem novos horizontes, desbravar mundos. Querem voar. É obrigação de cada pai e cada mãe recolher suas asas de proteção, desvestir-se de todo medo e preocupação e assumir o papel de águia e lançar, soltar, ajudar o filho a voar, a se equilibrar, a buscar novos destinos, a crescer.  
É nossa obrigação oferecer todos os recursos disponíveis para que eles possam se desenvolver sozinhos, apesar da distância, da preocupação com o desconhecido e da saudade.
Como diz Rubem Alves, lindamente, em sua crônica “Quando os filhos voam” trata-se de desenvolver agora um ‘amor alado’, não um amor dependente e exigente. É tempo de amar à distância; mas os filhos amados e criados para serem independentes sabem que, se precisarem, estaremos logo ali.  
Este é um gesto de amor e de desapego; um gesto necessário e sofrido, porque como dizia Gibran(1), “nossos filhos não são nossos filhos, são filhos da ânsia da vida por si mesma” e nós somos apenas os arcos que os impulsionam.   
No futuro, iremos agradecer quando percebermos que, apesar de nossos temores, os discípulos superaram os mestres, os filhos superaram os pais. É da Vida, é da natureza o voar e deixar voar.   

 (1)Gibran Khalil Gibran (1883-1931) foi ensaísta, filósofo, poeta, conferencista e pintor libanês, cujos escritos profundos, simples e belos, foram traduzidos no mundo todo. É do seu livro mais famoso, o Profeta (1927), o texto que reproduzimos abaixo.

Os Filhos
[Do Livro "O Profeta", 1927]

Uma mulher que carregava o filho nos braços disse: "Fala-nos dos filhos."
E ele falou:       
Vossos filhos não são vossos filhos.           
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.           
Vêm através de vós, mas não de vós.           
E embora vivam convosco, não vos pertencem.           
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,           
Porque eles têm seus próprios pensamentos.           
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;           
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,           
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.           
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,           
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.           
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.           
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força          
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.           
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:           
Pois assim como ele ama a flecha que voa,           
Ama também o arco que permanece estável. 

Referências:
Gibran Khalil Gibran, O Profeta. Tradução e apresentação de Mansour Challita.Ed. Vozes, Rio de Janeiro, 1974. 




3 comentários:

  1. Muito bonito isto. Este é o seu exemplo. Parabéns, amiga. Bjs

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    1. Obrigada, mas não se esqueça de deixar seu nome, no final... Imagino uma pessoa, mas.... obrigada pela visita... beijos
      Anita

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  2. Muito bonito isto. Este é o seu exemplo. Parabéns, amiga. Bjs

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