Terça-feira, 28 de julho, será lançado um livro corajoso, de
alguém que sofreu, enfrentou e quis compartilhar sua dor e busca de explicações com
aqueles que passam pelo mesmo trauma, a perda de um filho. O livro é da querida amiga e professora
universitária Ione Maria Ramos Paiva e a apresentação é minha, já que acompanhei o longo e sofrido processo de elaboração do livro e da dor. A renda obtida com a venda será
destinada a duas entidades: Mães Sem nome, grupo de mães que perderam
seus filhos e buscam reaprender a viver, e a Associação dos Defensores de
Animais de Varginha:
Leiam a bela resenha do professor Francisco Romanelli e, se
puderem, compartilhem.
A
MAIOR DAS PERDAS: O APRENDIZADO PELA DOR
Partindo de experiência
própria, daquela que representa a maior de todas as dores da vida, a perda de
um filho jovem, Ione Paiva, a autora de A maior das perdas, honestamente,
desnuda sua alma revendo as dores, os mecanismos psicológicos alterados, as
arestas sociais e os muitos traumas, que dilaceram e estilhaçam a vida do
pseudossobrevivente. Ao partilhar sua dor, a autora não só se submete a um
processo catártico de entendimento do contexto da fatalidade, como, também, se
irmana com outros pais desafortunados, flagelados por dor equivalente. Para se
situar em meio ao caos em que a vida se transforma e reorganizar os seus cacos
em uma sequência lógica que, se não aplaca a dor, pelo menos a faz melhor
compreendida, é que a obra perpassa por um rico filão de estudos no campo da
filosofia, da psicologia, das religiões, da sociologia, da filosofia esotérica
e das ciências ditas paralelas (como astrologia, mediunidade e espiritualismo).
Observe-se, no entanto,
que a obra não é um libelo de desabafo, nem se trata de um manual de auto
ajuda, muito menos veicula mensagens panfletárias em prol desta ou daquela
filosofia religiosa ou de vida, mas, um sério estudo com leque abrangente de
tema, no final das contas, o definitivo entorno da existência dos pais que
sobrevivem à perda do filho e com o qual eles terão de lidar por todo o tempo
do resto de suas próprias existências.
Organizando logicamente
experiência tão absolutamente fora de lógica, a autora dá sentido orgânico à
sua obra estruturando-a, por seus dezoito capítulos, na análise básica de
quatro temas centrais: sua própria experiência, dor e consequências; a
compaixão pela dor alheia dos que, como ela, foram submetidos a experiências
idênticas; o sentido da morte e da perda em pensamentos religiosos e
filosóficos e, por fim, a busca de um sentido na transcendência da vida
existencial. Ao narrar sua perda, o faz sem pieguismos, mas, com a honestidade da
mãe que é amputada da parte mais doída de seu ser, o filho, mas que busca
tornar o mundo físico e espiritual, após trauma de tal magnitude, em algo
inteligível e possível de se viver. Optou pelo profundo estudo e pela farta pesquisa,
ao invés de imergir em auto comiseração. A magnitude absoluta da dor já fora
atingida e, como ela própria diz, o livro não pode impingir-lhe maiores
sofrimentos, porque isso já não seria mais possível. Daí sua opção pelo estudo
sério sobre um tema que se esconde sob tabus, incompreensões, rejeições e
impossibilidades de definição científica.
Ao compungir-se com a
dor alheia pretende “mostrar aos outros pais que não estamos sozinhos nesta
caminhada pesada da vida; que muitas vezes, no auge de nosso desespero ansiamos
ouvir, tanto quanto ansiamos contar nossas histórias, bem como as histórias de
nossos filhos queridos, tão caras para nós”. E uma das mais úteis formas de
partilhar a dor para, junto com experiências similares, cada um melhor suportar
a sua própria, é a imersão no estudo do tema, buscando o sentido da existência,
das rupturas e das perdas, caminho que o livro se propõe a oferecer para a
comunhão dessas almas e mentes atormentadas e irmanadas no grande sofrimento.
O livro, no entanto,
não é de interesse restrito àqueles que partilham a experiência de perda de
filhos. A estes, dá amparo, ombro, carinho e tentativa de entendimento. Para
além dessa comunhão, o livro é universal ao encarar como a mente humana,
através de seus mecanismos ferramentais como a filosofia, a psicologia, a
religião, a arte e outros estudos paralelos, problematiza a ruptura e a perda.
A morte é o destino de tudo aquilo que vive. Se o raciocínio humano não
consegue se satisfazer com a tentativa de explicar a vida, muito menor êxito
obtém na possibilidade de entender e aceitar a morte. E apresenta, por fim, as
diversas hipóteses de como as religiões, os movimentos espirituais e as
filosofias esotéricas buscam a transcendência da vida individual. Muitas se
direcionam aos caminhos da fé – a morte é um propósito divino para o início de
uma nova trajetória da alma, assim como o ditam seus cânones dogmáticos.
Outros, no entanto, encontram respostas em experiências espirituais pessoais e
alheias, tidas como verdades – visões, experiências de quase morte, contatos
espirituais, lembranças e êxtases. A autora mostra as opções mais
frequentemente encontradas e as técnicas de experimentação regularmente
adotadas, como aquelas das tradições orientais, inclusive a meditação.
A autora, Ione Maria
Ramos de Paiva, não é uma pesquisadora estreante. Ao contrário, professora
universitária, Mestre em Engenharia de Produção, Mídia e Conhecimento, com
ênfase em Psicologia das Organizações, autora de dois livros, escritora
acadêmica, é pesquisadora nas áreas de filosofia, esoterismo, religião e
ciências paralelas (notadamente Astrologia, Parapsicologia e Rosacrucianismo),
pesquisas essas que foram aprimoradas e incrementadas face à desdita da perda
filial, quando sentiu necessidades de encontrar algum entendimento sobre o fenômeno
da morte. Daí advém a rica fonte de informação que A maior das perdas traz. A despeito da profunda pesquisa, esse é um
livro escrito de maneira coloquial, com ágil leitura e compreensão, alheio aos
chavões academicistas e se reveste de forte caráter de essencialidade. Aqueles
que querem se situar na vida precisam refletir sobre a morte. É a imersão nessa
reflexão necessária e humana que é a proposta do livro.
LANÇAMENTO
DE LIVRO
PAIVA, Ione Maria
Ramos de. A maior das perdas. Rio de
Janeiro: Barra Livros, 2015. 98p. Data:
Dia 28 de abril DE 2015, terça-feira, às 20h30min.
Local: sede da Academia Varginhense de
Letras, Artes e Ciências (AVLAC) - Sala da Torre da Estação Ferroviária, Praça
Matheus Tavares, nº. 121, Centro- Varginha
[*] Mestre
em Letras, membro da Academia Varginhense de Letras Artes e Ciências (AVLAC).
Obrigada, amiga. Bjs
ResponderExcluirIone Paiva