segunda-feira, 27 de abril de 2015

Vida & Literatura: Escrevendo sobre a dor da perda

 Terça-feira, 28 de julho, será lançado um livro corajoso, de alguém que sofreu, enfrentou e quis  compartilhar sua dor e busca de explicações com aqueles que passam pelo mesmo trauma, a perda de um filho. O livro é da querida amiga e professora universitária Ione Maria Ramos Paiva e a apresentação é minha, já que acompanhei o longo e sofrido processo de elaboração do livro e da dor. A renda obtida com a venda será destinada a duas entidades: Mães Sem nome, grupo de mães que perderam seus filhos e buscam reaprender a viver, e a Associação dos Defensores de Animais de Varginha:
Leiam a bela resenha do professor Francisco Romanelli e, se puderem, compartilhem. 

A MAIOR DAS PERDAS: O APRENDIZADO PELA DOR
Resenha: Francisco Antonio Romanelli[*] 



Partindo de experiência própria, daquela que representa a maior de todas as dores da vida, a perda de um filho jovem, Ione Paiva, a autora de A maior das perdas, honestamente, desnuda sua alma revendo as dores, os mecanismos psicológicos alterados, as arestas sociais e os muitos traumas, que dilaceram e estilhaçam a vida do pseudossobrevivente. Ao partilhar sua dor, a autora não só se submete a um processo catártico de entendimento do contexto da fatalidade, como, também, se irmana com outros pais desafortunados, flagelados por dor equivalente. Para se situar em meio ao caos em que a vida se transforma e reorganizar os seus cacos em uma sequência lógica que, se não aplaca a dor, pelo menos a faz melhor compreendida, é que a obra perpassa por um rico filão de estudos no campo da filosofia, da psicologia, das religiões, da sociologia, da filosofia esotérica e das ciências ditas paralelas (como astrologia, mediunidade e espiritualismo).
Observe-se, no entanto, que a obra não é um libelo de desabafo, nem se trata de um manual de auto ajuda, muito menos veicula mensagens panfletárias em prol desta ou daquela filosofia religiosa ou de vida, mas, um sério estudo com leque abrangente de tema, no final das contas, o definitivo entorno da existência dos pais que sobrevivem à perda do filho e com o qual eles terão de lidar por todo o tempo do resto de suas próprias existências.
Organizando logicamente experiência tão absolutamente fora de lógica, a autora dá sentido orgânico à sua obra estruturando-a, por seus dezoito capítulos, na análise básica de quatro temas centrais: sua própria experiência, dor e consequências; a compaixão pela dor alheia dos que, como ela, foram submetidos a experiências idênticas; o sentido da morte e da perda em pensamentos religiosos e filosóficos e, por fim, a busca de um sentido na transcendência da vida existencial. Ao narrar sua perda, o faz sem pieguismos, mas, com a honestidade da mãe que é amputada da parte mais doída de seu ser, o filho, mas que busca tornar o mundo físico e espiritual, após trauma de tal magnitude, em algo inteligível e possível de se viver. Optou pelo profundo estudo e pela farta pesquisa, ao invés de imergir em auto comiseração. A magnitude absoluta da dor já fora atingida e, como ela própria diz, o livro não pode impingir-lhe maiores sofrimentos, porque isso já não seria mais possível. Daí sua opção pelo estudo sério sobre um tema que se esconde sob tabus, incompreensões, rejeições e impossibilidades de definição científica.
Ao compungir-se com a dor alheia pretende “mostrar aos outros pais que não estamos sozinhos nesta caminhada pesada da vida; que muitas vezes, no auge de nosso desespero ansiamos ouvir, tanto quanto ansiamos contar nossas histórias, bem como as histórias de nossos filhos queridos, tão caras para nós”. E uma das mais úteis formas de partilhar a dor para, junto com experiências similares, cada um melhor suportar a sua própria, é a imersão no estudo do tema, buscando o sentido da existência, das rupturas e das perdas, caminho que o livro se propõe a oferecer para a comunhão dessas almas e mentes atormentadas e irmanadas no grande sofrimento.
O livro, no entanto, não é de interesse restrito àqueles que partilham a experiência de perda de filhos. A estes, dá amparo, ombro, carinho e tentativa de entendimento. Para além dessa comunhão, o livro é universal ao encarar como a mente humana, através de seus mecanismos ferramentais como a filosofia, a psicologia, a religião, a arte e outros estudos paralelos, problematiza a ruptura e a perda. A morte é o destino de tudo aquilo que vive. Se o raciocínio humano não consegue se satisfazer com a tentativa de explicar a vida, muito menor êxito obtém na possibilidade de entender e aceitar a morte. E apresenta, por fim, as diversas hipóteses de como as religiões, os movimentos espirituais e as filosofias esotéricas buscam a transcendência da vida individual. Muitas se direcionam aos caminhos da fé – a morte é um propósito divino para o início de uma nova trajetória da alma, assim como o ditam seus cânones dogmáticos. Outros, no entanto, encontram respostas em experiências espirituais pessoais e alheias, tidas como verdades – visões, experiências de quase morte, contatos espirituais, lembranças e êxtases. A autora mostra as opções mais frequentemente encontradas e as técnicas de experimentação regularmente adotadas, como aquelas das tradições orientais, inclusive a meditação.
A autora, Ione Maria Ramos de Paiva, não é uma pesquisadora estreante. Ao contrário, professora universitária, Mestre em Engenharia de Produção, Mídia e Conhecimento, com ênfase em Psicologia das Organizações, autora de dois livros, escritora acadêmica, é pesquisadora nas áreas de filosofia, esoterismo, religião e ciências paralelas (notadamente Astrologia, Parapsicologia e Rosacrucianismo), pesquisas essas que foram aprimoradas e incrementadas face à desdita da perda filial, quando sentiu necessidades de encontrar algum entendimento sobre o fenômeno da morte. Daí advém a rica fonte de informação que A maior das perdas traz. A despeito da profunda pesquisa, esse é um livro escrito de maneira coloquial, com ágil leitura e compreensão, alheio aos chavões academicistas e se reveste de forte caráter de essencialidade. Aqueles que querem se situar na vida precisam refletir sobre a morte. É a imersão nessa reflexão necessária e humana que é a proposta do livro.

LANÇAMENTO DE LIVRO
PAIVA, Ione Maria Ramos de. A maior das perdas. Rio de Janeiro: Barra Livros, 2015. 98p. Data: Dia 28 de abril DE 2015, terça-feira, às 20h30min.
Local: sede da Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências (AVLAC) - Sala da Torre da Estação Ferroviária, Praça Matheus Tavares, nº. 121, Centro- Varginha

[*] Mestre em Letras, membro da Academia Varginhense de Letras Artes e Ciências (AVLAC).

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