
Depois de ler o livro, fiz algumas considerações ao
autor e reproduzo parte delas. De início, questiono o uso do termo
"comunismo"no título, já que tal
movimento em Varginha não me pareceu tão expressivo, talvez mais pela inferência dos
agentes públicos do que de fato. A bem da verdade, a partir da leitura dos relatórios e ofícios
transcritos, concordei com o autor quando ele lamenta a postura
um tanto fantasiosa dos documentos dos períodos pesquisados. Tais
documentos, além de mal escritos, mostram ilações e inferências no mínimo estranhas, ou até mesmo levianas, daqueles agentes quando constroem suas narrativas deduzidas (?!) a partir da observação de atividades comezinhas dos cidadãos.

Infelizmente, tal estrutura de pensamento perdura até hoje, em maior ou menor grau em todo o país. A herança deixada se enraizou no nosso sistema policial e político e os que defendem a justiça são vistos como “perturbadores da ordem e/ou subversivos”. A considerar tudo isso, Jesus pode ser considerado o maior revolucionário que já existiu, pois ele pretendia mudar totalmente o status quo da época, pregando um mundo justo de amor, fraternidade, caridade, tolerância e respeito entre todas as raças e entre os diferentes. Precisamos, com urgência, compreender que o diferente não é, necessariamente, um adversário; é, apenas, diferente. Ou não?
Outro fato bastante comum no período pesquisado são as tais denúncias anônimas, atividade sobre a qual me eximo de uma análise mais profunda, por absoluta incapacidade de entendimento, naqueles casos. Salvo em situações especiais (porte de drogas, maus tratos, violência, pedofilia, etc), e-mails, telegramas, cartas, comentários anônimos em blogs, jornais e revistas não me convencem. Passam a impressão de alguém que não assume o que pensa e fala, atitude que parece andar de mãos dadas com sentimentos como ódio e medo, atitude de quem não tem argumentos ou certeza do que diz, mas quer denegrir o outro, prejudicar o “diferente” e destruir aquilo que teme.
Outro hábito típico do período era rotular vários indivíduos como “esquerdistas”, em tom pejorativo e de nítido desprezo, demonstrando
seu desconhecimento e preconceito. A própria Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências
teve membros arrolados nos documentos pesquisados como “envolvidos” e “suspeitos”, motivo que levou o autor a iniciar suas
pesquisas e a usar o termo “flerte” da Academia com o regime
militar.
Bem, o que vemos na história é que, via de regra, Academias de Letras são entidades conservadoras. Preservam a memória, sim; no entanto, deveriam cumprir mais seu papel fundamental - ser um foco de cultura, divulgar o conhecimento, que inclui a riqueza da diversidade cultural - erudita, popular e de massas - e difundir valores eternos como a justiça social, entre outros. Hélio Jaguaribe, cientista político, em seu discurso de posse na ABL destacou ser justamente esse o papel das Academias.
Espero que a leitura deste livro desperte corações e
mentes para lutarmos contra nossos preconceitos, apriorismos e paranoias, mas também, e principalmente, aguçar nosso discernimento para não cairmos em falsas narrativas.
Referências:
José Roberto Sales: <sales.jr@bol.com.br>
Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências-AVLAC:
<academiavarginhensedeletras@bol.com.br>
<academiavarginhensedeletras@bol.com.br>
Publico e agradeço o comentário que recebi, por email, do autor do livro:
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O livro "Estudo sobre o Integralismo e o Comunismo em Varginha – MG : A Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências e a Polícia Política de Minas Gerais 1936-1972", de José Roberto Sales, é o 24º publicado pelo autor. No item Metodologia o autor justifica o título da obra e apresenta detalhadamente o método de pesquisa utilizado. Os fatos apresentados foram extraídos principalmente de documentos produzidos pelo antigo DOPS/MG - Departamento de Ordem Política e Social de Minas Gerais. O autor analisa esses fatos levando em conta o contexto social e histórico do período estudado e não estabelece nenhum tipo julgamento moral nem juízo de valor. José Roberto Sales.