Aquarela: Lêda Brandão de Oliveira.
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Há poucos dias, o IPHAN
- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional tombou o SESC Pompeia, em São Paulo, projeto da arquiteta Lina Bo Bardi.
Para quem não está familiarizado com o termo, tombamento é um instrumento
legal para preservar um bem histórico, cultural, arquitetônico, artístico,
arqueológico ou paisagístico, com o intuito de preservar seus traços e sua
presença para a posteridade, uma forma de proteger e registrar a os saberes e
fazeres de uma dada sociedade. O emblemático prédio representa um ponto de
ruptura na história da arquitetura brasileira. A aquarela ao lado é de Leda Brandão, amiga, arquiteta, desenhista e aquarelista de primeira.
Foto: Anita Di Marco, 2021 |
Em meados dos anos
1970, logo que foi convidada a assumir o projeto de criar um centro de
convivência, em uma antiga fábrica de tambores no bairro da Pompeia,
Lina revolucionou o conceito e a prática usual de projetar. Seu escritório era
no próprio canteiro de obras, onde atuava, desenhava e discutia com operários,
técnicos, arquitetos e engenheiros. Em 1982 (eu morava em Roma, nessa época e,
infelizmente, não participei da inauguração), São Paulo ganhou um presentão,
único e singular: o Centro de Lazer Fábrica da Pompeia, ou simplesmente
o SESC Pompeia, cuja proposta era criar, sem qualquer tipo de discriminação, um
espaço de convivência inclusiva entre todos, de todas as classes sociais, etnias
e idades. Seu logotipo, uma chaminé-torre-caixa d’água que soltava flores. Precisa dizer mais?
Dos moradores da cidade
de São Paulo, e mesmo visitantes, não conheço quem não guarde uma boa
recordação do SESC Pompeia - suas exposições únicas e criativas, sua imensa
lareira, suas poltronas de madeira com estofado verde, o espelho d’água de
fundo de seixos, as peças de teatro, a biblioteca, a brinquedoteca, e depois, o
deque, as passarelas, a flor de mandacaru, os vãos singulares das janelas, as
treliças à guisa de fechamento e proteção, as cores, os detalhes de drenagem,
as texturas, tudo, tudo, tudo. Absolutamente tudo, não há um detalhe naquela
obra que não chame a atenção do mais leigo dos usuários. É um prédio que
convida a entrar, a permanecer, a descobrir e a sonhar. É uma obra que me
impressiona e emociona até hoje.
Depois, já de volta a
São Paulo, todas as vezes que recebia visitantes, nacionais ou internacionais,
ir ao SESC Pompeia era, para mim, passeio obrigatório, pois cada vez mais o
edifício se afirmava como centro de convivência de várias gerações da cidade de
São Paulo que, até hoje e lindamente, reúne netos, filhos, pais e avós.
♦ Vivo minha vida
aprendendo sem parar, às vezes dói, às vezes encanta. Nunca me lembro de, num
pedaço de tarde, ter aprendido tanto. O Brasil precisa ver este centro de
lazer, que é uma árvore, para fazer dele semente.
- Darcy Ribeiro, livro de visitas do SESC Pompeia, 1983.
Livros de Lina. Foto: Anita Di Marco. |
Na exposição Êxodos, do fotógrafo Sebastião Salgado, toda a família esteve lá, inclusive meu pai, hoje
não mais conosco. Na exposição sobre o Sítio do Pica-pau Amarelo, as crianças
faziam a festa e os adultos se deliciavam com as próprias lembranças. Na primorosa
exposição da fantástica Maria Clara Machado, os brinquedos-personagens faziam
as crianças tremerem e pularem de emoção e ansiedade. Além de Design no Brasil, Mil
brinquedos, Caipiras e capiaus, Entreato para crianças e outras mais...
• • • No fundo, vejo
a arquitetura como serviço coletivo e como poesia. Alguma coisa que nada tem a
ver com arte, uma espécie de aliança entre dever e prática científica.
-
Lina Bardi.
Enfim, montagens nunca
vistas e de uma riqueza impressionante. Incontáveis os sentimentos e emoções
proporcionados pelas atividades lá realizadas, desde as exposições, ao
bate-papo ao pé da lareira, às aulas de mímica, às oficinas, às peças, ou
ao simples café na chopperia. Com certeza, é um lugar que merece ser celebrado
por mais de uma geração. Não, por acaso, é um dos meus prédios favoritos na cidade. E o que proporcionou tudo isso? Claro, uma equipe dedicada e
empenhada, mas também a apropriação da população, o carinho e o respeito que se
tem pela obra e sem dúvida, o olhar sensível, solidário e criativo daquela
arquiteta (que gostava de ser chamada de arquiteto)...
Se você não conhece, não perca tempo: na sua próxima ida a São Paulo, não tem desculpa.
Vá até lá e depois me conte.
Cidadela da Liberdade. Lina Bo Bardi e o SESC Pompeia. Org. André Wainer e Marcelo Ferraz. Ed. SESC, São Paulo: 2013.
Imagens: Livros de Lina (Foto: Blog Anita Plural)
Aquarela: Lêda Brandão de Oliveira. http://ledabranoliv.blogspot.com.br/
Parabéns Anita pela iniciativa, adorei!
ResponderExcluirVc precisa conhecer o SESC Pompeia... obrigada pela visita, bjs
ResponderExcluirAnita
Vc precisa conhecer o SESC Pompeia... obrigada pela visita, bjs
ResponderExcluirAnita